Estou lambuzado.
Meu corpo está coberto de lama e molhado.
Este mangue é sagrado mas, eu, um pobre
diabo, preciso deste lugar.
Ele tenta se esconder.
Esta criatura, me olhando com ternura, quer
me comover.
Seus braços fortes, não são tão fortes quanto
a minha fome.
Sou um bicho maior e comer o menor, é direito meu !
Seus olhos estranhos, sua vida no
submundo, imundo, desperta em mim
um sentimento de piedade...
Na panela, a água fervente trocará
a sua cor, sem direito a gritar de dor.
Os dentes do cliente, afiados como
faca, cravarão em sua carne, dando
Adeus aquele buraco !
Poucos sabem o que representa, para a
vida, este amigo meu.
É melhor nem saber.
A ignorância diminui o sofrimento...
Ainda há tempo !
Estão vivos, os condenados caranguejos.
Todos voltaram aos seus buracos.
Não mudarão de cor.
Foram salvos por amor !