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quinta-feira, 28 de abril de 2016

Conto poético: A BRUXA DO COSTÃO



É, apenas, uma pedra, apelidada  de 
"guarita".
Todos os pescadores a conhecem.
Muitas histórias, talvez lendas, giram ao 
seu  redor.
A noite estava calma, assim como manso,
estava o mar.
As águas  espelhavam uma linda 
estrada prateada, parecendo 
subir nas encostas da montanha.
Senti-me  parte daquele belo espetáculo.
Estava só, com  os meus pensamentos 
repletos de imaginação.
Para espantar o medo, cantava ou assobiava.
Muitas histórias de assombração ouvi, desde
menino, sobre a  " guarita ".
Piratas assassinos, sereias e bruxas, moravam
lá, garantiam os velhos pescadores.
E eu estava "lá", na madrugada.
Lembrei-me da história mais contada
 nas "vendinhas" do lugar.
Narravam:
" Escutei um murmúrio,  vindo daquela pedra.
Poderia ser um animal da mata, ou o barulho 
do mar. 
Mesmo assustado, fui  olhar.
Uma linda e sedutora mulher, distante pouco
 mais de vinte metros,  chamava por mim.
À medida que dela me aproximava, mais perto
do mar ela ficava.
Andava  sobre a água, na estrada prateada,
fazendo sinal para acompanha-la.
Fui até à beira das pedras mas, por medo,
recuei.
Salvei a minha vida e ela  sumiu  no meio 
de frenéticas  gargalhadas.
Muitos pescadores desapareceram  naquele
 pesqueiro,  sem causa aparente... ".
Até hoje,  contam esta  história da "bruxa do costão".
Mas eu só ouvi  grunhidos de gaivotas, atrás 
das rochas, parecendo gargalhadas.
O medo faz coisas...


Sinval Santos da Silveira









quarta-feira, 20 de abril de 2016

Conto poético: O CORTIÇO



Era um velho casarão.
Paredes pela metade, sem portas, e
telhado sem forro.
Divisão de espaço, apenas  para 
demarcação.
Sem privacidade, sem higiene, sem 
tudo...
Sobreviver, naquelas condições, era um 
covarde desafio.
Muitas famílias, todas miseravelmente 
pobres, lá  viveram e  em harmonia, talvez 
unidas pelo sofrimento, quem sabe pelo   
respeito ou medo.
Era um  " cortiço ", pouco melhor que uma estrebaria.
Voltei  aquele lugar  para conferir, mas já não existe.
Uma suntuosa " residência de dois  andares ",
me surpreendeu.
Um luxuoso automóvel, com crianças bem
cuidadas... que contraste !
Lembrei-me, então, dos amigos que 
viveram naquele pardieiro, e  por onde 
poderiam andar... fazendo o que ?
Indaguei  de um velho homem, que 
também conheceu aquela  " vergonha ",
sobre o destino de alguns moradores.
Para  minha surpresa, disse-me que
todos sentem muito orgulho de haverem
sido moradores daquela velha casa, e 
se  tratam como  irmãos e que houve
muita prosperidade entre eles.
Disse-me, mais:
"  A  falta de tudo,  trouxe fartura de amor. 
Virou uma só família,  muito forte ! "
Fiquei feliz com a notícia !
 
Sinval Santos da Silveira







quinta-feira, 14 de abril de 2016

Poema: O HOMEM QUE PINTOU O CÉU


Esta madrugada, vou pintar o Céu,  para
presentear a minha amada !
Um cacho de rosas amarelas,  para iluminar
a face dela,  quando o sol for  embora.
A prata do luar, pelo  brilho do ouro, vou
trocar !
As cores do arco-íris serão, somente, as 
dos  olhos dela.
A  luz do horizonte, onde o sonho dos 
amantes se esconde, terá a cor da alma  
da minha amada.
Quero o mar diferente, da cor do fogo para
assustar os lobisomens, que espreitam a
casa dela.
As estrelas serão verdes, da cor da mata, 
habitadas por  passarinhos gorjeando, a  
embalar o sono dela.
O vento terá cor, e sempre será suave,  para 
não  desalinhar os cabelos do meu amor.
E a boca da noite, terá  o desenho dos 
lindos lábios dela...
Ah, poeta, somente tu poderás mudar o que
Deus criou, com a força do teu amor !







   

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Conto poético: AS CONFISSÕES DE UM RUFIÃO


Fiz parte de um grupo de poetas que,
costumeiramente, visitava  asilos  de 
idosos.
Poesias,  histórias e cantorias, eram a
tônica das visitas.
Um espetáculo de sentimentos !
Contava-se um episódio e, da plateia,
ouvia-se outro, mais  emocionante, narrado
por pessoa com mais de 100 anos de  vida.
Pode-se imaginar o volume do repertório...
Numa tarde gelada de agosto, céu cinzento,
vento soprando do quadrante sul, fui tocado,
às costas, por um velho homem, pedindo-me para
 ouvir a sua confissão, pois não  teria coragem 
de faze-la a um sacerdote.
Curioso, aceitei.
Disse-me:
" Estou neste asilo há mais de vinte anos.
Não tenho ninguém por mim, além da sociedade, é claro.
Sabes o que pratiquei em toda a minha vida ?
Rufianismo ...
Não presto. Não valho nada.
Vivi às custas da miséria moral.
Aqui, mesmo, neste asilo, estão internadas
quatro mulheres idosas, que fizeram parte
do "plantel" que explorei por muitos anos.
Fingem não me conhecer,  por vergonha.
Sou um canalha, pois aliciei, multas delas, 
por dinheiro,  desmanchei casamentos e 
destruí lares.
Escondo-me de Deus, por constrangimento.
Não mereço ser perdoado." 
Disse-me, tudo isto, com as ranhuras  que a 
vida deixou em sua face, transbordando de lágrimas !
Até hoje, procuro palavras para consola-lo,
e não as encontro, talvez por não merece-las.













sexta-feira, 1 de abril de 2016

Conto poético: AINDA HÁ TEMPO


Escutei  a voz da minh´alma, a perguntar 
por ti.
Entre soluços e prantos, desfigurada pela 
saudade, e numa súplica ao meu coração, 
desabafou :
"  Perdeste a visão do universo.
O teu amor próprio te feriu  de morte,
turvando o cristalino dos teus olhos.
Saibas que os sentimentos não 
precisam de olhos para enxergar. 
São o teu sexto sentido. 
Estes, não conseguirás matar, estão
protegidos por tua alma, tua essência...
Quero te devolver a vida e a felicidade,
através do amor que deixaste partir.
Sempre haverá tempo para  os que 
amam...
Esqueça o que passou.
As mágoas só existem para ti, e o 
coração aguarda o perdão." 
Perdi a alegria e a confiança, mas 
ainda alimento a esperança, de um 
novo amor encontrar !
Caminho pelas estradas sem fim, cruzo 
as esquinas da vida, as fronteiras
derradeiras, escutando  vozes que me 
levam para longe deste lugar.
A minh´alma e ao meu coração, peço 
perdão.
Aqui, não posso ficar... ainda há tempo 
para amar, noutro lugar.