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sábado, 25 de outubro de 2014

Conto poético: PESADELOS, NUNCA MAIS


 
Tomei coragem, e disse à mulher que sempre
amei:
Não sei quando parti, mas sei o quanto sofri.
Por impulso, ingratidão ou sofreguidão, te
abandonei, para procurar o que já havia 
encontrado, em teus calorosos  abraços.
Convivi com a ansiedade de voltar, para um
grande amor recomeçar.
Cansei de olhar as estrelas e o luar, com as
essências florais te comparar.
Sonhei, chorei e chamei por ti, nas frias  e
intermináveis madrugadas.
Agora, estou aqui  para te pedir  perdão.
Não sei por onde devo começar, se beijando
as tuas mãos, ou  banhando os teus pés com
as minhas lágrimas, e estas lindas flores, que
trago em meu coração.
Não suportei a saudade, é uma grande maldade
abandonar um verdadeiro amor.
Humildemente, respondeu-me:
"  Não fala isto.
Eu sabia que um dia voltarias.
Deixa-me tirar os teus sapatos.
Teus pés estão cansados, necessitando do carinho
que sempre te dei.
Quero banha-los com as flores que trazes em teu
coração, com a água sagrada da esperança, que
jamais me abandonou.
Descansa, velarei pelo teu sono.
Quero fazer parte dos teus lindos sonhos.
Pesadelos,  nunca mais ! "
 
 

domingo, 19 de outubro de 2014

Conto poético: O ANDARILHO POETA


Dia ensolarado, e mar atraente, com ondas calmas
e quentes, em  céu azul anil.
Meu olhar, concentrado no horizonte, parecia
querer estar longe dali.
Não sei porque, é sempre assim.
Um homem, maltrapilho, parecendo um andarilho,
senta-se próximo a mim.
Seus trajes e bagagens, o denunciam  um ser
abandonado.
Parecia muito cansado e, certamente, faminto.
Quem será ?
Ofereci-lhe água...  aceitou.
Nasceu, então, um elo de comunicação.
Perguntei-lhe de onde veio, e fui surpreendido.
Disse-me:
"Venho do mundo.
Não conheço a minha  fonte...
Alimento-me, somente, quando é possível.
Sou um morador de rua, um abandonado.
Fui criado num abrigo para menores, com dezenas
de irmãos, e muitos pais.
Gente caridosa, de boa índole, e que me educou  
com amor e respeito.
Mas, preciso encontrar as cinzas do meu passado.
Nenhum vestígio localizei, até agora.
Nem mesmo esperança, a vida me deu. 
Cada vez fico mais aflito, distante da vida, e mais
próximo dos meus versos...
Sim, dos meus versos, pois dizem que sou um poeta,
embora não acredite.
O poeta escreve, possui livros e leitores, tem amores.
Mas, minha vida é um horror, jamais tive um amor.
Os versos que componho,  nascem dos  pesadelos
intermináveis, da angústia de não poder enxergar o
horizonte da minh'alma.
Por isto, não sou um poeta, como as pessoas dizem".
Falou-me, tudo isto, com muitas lágrimas, que se
perderam entre os longos fios da sua barba.
Foi embora, não antes de apertar a minha mão,
agradecendo a gentileza da água ofertada, e  da
atenção que lhe dispensei.
Aquele homem, não precisa procurar mais nada.
Já encontrou tudo o que ama na vida.
É um poeta !

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Conto poético: VOLTEI, PARA PEDIR PERDÃO


Sentado à frente da bela Igreja de Santo Antônio
dos Anjos, na minha querida Laguna, um velho
homem conversava consigo mesmo.
Sua voz estava tão alta, que me permitia, sem
esforço, ouvi-lo.
Dizia, com  os olhos transbordando de lágrimas:
"  Quando menino, frequentava esta Igreja.
Era a minha segunda casa.
Admirava a abnegação dos sacerdotes, e a fé deste
povo, tão puro !
Sonhava  em ser um deles.
Não um padre, mas um santo, para ajudar a
humanidade ser mais feliz.
Prometi, aos pés do Criador, só praticar virtudes.
Sonhos de criança !
Não sou, apenas, um pecador, mas fui um  grande
predador.
Não vou mais ao confessionário, pois sentiria
vergonha  em declinar os pecados que cometi,
por este mundo afora."
Levantou-se e, em passos lentos, dirigiu-se aquele
Templo, sumindo na fria e silenciosa penumbra do
seu interior.
Entendo o seu sofrimento.
Deve ser doloroso não compreender  que,  no
decorrer da  vida, nos transformamos em várias
pessoas, para melhor, ou para pior.
E somente a um  tribunal,  é  atribuído o  direito de
julgar esta escalada.
No campanário, dobravam os sinos sem parar,
parecendo reconhecer um filho que acabara de
retornar.
Ao sair do Templo, com as feições mais serenas,
perguntou-me quem era eu.
Respondi-lhe, apenas, com um profundo e
silencioso olhar:
Sou a tua consciência, que te exigiu voltar, para
pedir perdão.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Poema: UMA CESTA CHEIA DE AMOR



Nesta noite fria, misteriosa e sem estrelas,
voam meus confusos pensamentos, à procura
daquele amor.
Em soluços de dor, vejo minh'alma abraçada
ao desespero de uma cruel partida.
São gritos que ecoam, sentimentos premidos,
tristes gemidos.
Nos emaranhados da vida, minha imaginação
perambula, passo a passo, sem sair deste lugar.
Ouço desabafos navegando nas tormentosas
torrentes, debatendo-se nas pedras do meu
caminho.
Estas lágrimas, que correm em minha face, não
são pelos amores que partiram, mas por um  que
deixou doces lembranças, e fortes esperanças de
um dia voltar.
Já se passaram muitos anos, mas meu  amor parou no
tempo, manipulando o vento, trazendo o cheiro dela
para me alucinar.
Todas as noites eu a amo, no aconchego dos meus
sonhos, na inconsciência do pecado.
Sou aplaudido pelos santos que me protegem,  e
pelo rei da maldade, também.
Quando o galo canta, pela terceira vez, ela se vai.
Chega, então, o raiar do dia, trazendo-me  uma cesta
de oferendas.
São sorrisos, olhares de ternura, perfume do seu corpo,
flores tecidas com seus cabelos, e muitas lágrimas de
felicidade !
Agora, espero ansioso pela próxima noite, e sonhar com
o primeiro cantar do galo...

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Conto poético: INDÍCIOS DO AMOR


 
O sentimento de amar, passa por corredores
emocionais, obscuros e difíceis de compreender.
Tendo  o mar azul, desta minha querida Ilha,
como cenário de fundo, e fazendo companhia
a um homem experiente, ouvi, atentamente,
a voz do seu coração.
 Disse-me:
" Olha amigo,  nesta vida por mim já vivida, e
lá se vão dezenas de anos, passei por muitos
sentimentos.
Do ódio  à saudade,  experimentei muita maldade,
e conheci a bondade, também.
Mas, nenhum tão forte quanto o amor.
Nem mesmo a paixão, por ser passageira,
escravizou  o meu coração.
Estive só, durante muitos anos.
Liberdade e diversão, foram minhas companheiras,
por quase  uma  vida inteira.
Brinquei com os sentimentos alheios, e até tropecei
num lindo olhar.
Aprendi uma bela lição !
Sei, agora, que existem nascentes, em  sinais
aparentes, se transformando em turbilhão, no
mundo do amor, e da paixão.
São indícios, que se deve prestar muita atenção.
Um gesto, ou uma palavra,  podem mudar o mais
indiferente coração.
Aquela mulher, ao  me agradecer por algo tão
insignificante, disse-me, graciosamente," obrigada ".
Com esta mesma simplicidade , concedeu-me a
oportunidade de enxergar um grande amor ! "
E eu fiquei muito emocionado, ao ouvir esta história,
embargada várias vezes por teimosas lágrimas, que
rolavam em sua face, como arrependimento de um
passado predador, que não lhe permitiu  prestar atenção,
nos indícios do amor.