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sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Conto poético: MEU NOME É CRIS


 
 " Moro no mundo.
Estou  casado, há mais de trinta anos, com uma
filósofa, ou melhor, com uma filosofia de vida, e
nos damos  muito bem.
Trabalhei no garimpo, durante uns 14  anos,
e saí mais pobre do que quando entrei.
Por facínoras, que habitavam aquele lugar, fui
ameaçado de morte.
Mas estou vivo, e nem sei como. Certamente,
graças a Deus.
Esta minha aparência, cabelos e  barba por
fazer,  além de maltrapilho,  e cheirando mal,
é por  exigência da minha fiel companheira.
A sociedade, de um modo geral, me rejeita.
Raramente alguém conversa comigo, ou me
escuta, como neste exato momento.
Hoje sou um pensador, um artista artesão.
Fico feliz  quando vejo alguém desfilando com
objetos, criados por mim. 
Deixa-me mais alegre do que o dinheiro que
recebo, na sua venda. Este, eu entrego todo 
a minha companheira, que me retribui com a
renovação da minha felicidade..."
Apertou minha mão, e foi embora.
Observei os seus passos, lentos, parando  à
frente de cada turista, sentado ou deitado na
areia, à beira mar, oferecendo o seu artesanato.
Fiquei pensando... curioso... que companheira 
espetacular é essa, que supre todas as
necessidades de um  homem, embora  roubando
o seu amor próprio,  transformando-o num miserável
zumbi ?
Dois dias depois, por coincidência, encontrei-o,
novamente.
Cumprimentos renovados, e já com o direito de
 " velhos conhecidos",  perguntei por sua companheira.
Respondeu, em tom irônico
"Ah, vai bem sim.  A Marijuana sempre está ótima.
Mas, eu, preciso de ajuda, urgente..."
Nem posso traduzir, o que  escutei daquele homem...
 
 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Conto poético: UM CORPO ESTRANHO


 
 
Ninguém pode imaginar, o que significa tudo aquilo.
Fruto da imaginação, olhar da incompreensão,
rebeldia, ou alucinação ?
Quem sabe, tudo isto, reunido sob o mesmo teto.
Pessoas diferentes... muito diferentes !
Falam  coisas, para mim, sem sentido.
Almas que iluminam, vibrações, sentimentos sem
limites.
Sorrisos francos, espantando os prantos, vivendo
nos limiares, acredito, da loucura e do prazer.
Final de tarde.
Escuto vozes, soltas nos imensos corredores.
Não !  São histéricos  gritos de vitórias...
exposição do nada, pendurada em paredes
imaginárias.
Abraços... aplausos !
Tenho medo. Não entendo. Coisas sem sentido.
Conversas sem nexo. Fico Perplexo.
Gargalhadas, sem graça. Gritos, novamente.
Barulho de serra, cheiro de  terra. Fumaça no ar...
parecendo incenso, espantando demônios, mas
os Deuses também fogem... de medo.
Eles sentem medo. Imagina, eu !
Os anos passam. Muitos anos...
Não sinto mais medo, vejo as paredes e, até, as
obras de arte. Como são lindas !
Já entendo o que falam, e o que fazem.
Não são gritos. São  manifestações de alegria,
abraçadas  à  felicidade.
É uma residência de artes, habitada por artistas.
Eu, era o corpo estranho.
 
 
 
 
 
 
 

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Conto poético: SÓ, COM AS EVIDÊNCIAS


Vivi uma forte experiência, ao me encontrar no
interior de um grande teatro.
Estava só, com os meus pensamentos
Apenas uma fraca luz, parecia orientar as
sombras, perdidas entre as poltronas vazias.
Minha imaginação, permitia-me ouvir  os aplausos.
Pareciam verdadeiros. E eram...
Pensei nos artistas, nas  artes, nos sorrisos, e nas
lágrimas, também.
Quantos momentos inesquecíveis, testemunhei.
Repentinamente, surge no palco um artista.
Não o conhecia. Nem sei de onde veio !
Cumprimentou-me, delicadamente,  admirado com
uma  única presença.
Dirigiu-se  à  mim, e à todas as demais poltronas,
como se ocupadas estivessem... delirava de emoção.
Prendeu minha atenção, e começou o seu monólogo,
caminhando no palco, sem parar, de uma extremidade,
à outra.
Em prantos, falou:
" Amei a mais linda mulher do mundo, com o mais
intenso amor, que um homem pode suportar.
Admirei sua alma,  respeitando-a como a um sagrado
templo.
Com a  força de um poeta, do seu passado esqueci,
e aos seus pés rezei,  por longos anos.
Aquele amor, foi a minha  religião.
Ao céu, e ao inferno, orei.
Foi tudo para mim.
Ainda ouço, neste palco da vida, suas gargalhadas,
ecoando por estas paredes,  debochando de mim...
Parecia querer assassinar meus sentimentos,
escravizar meus pensamentos, enlouquecendo o
meu ser.
Não mereço a atenção de ninguém.
Quero  estar nesta casa de artistas, quase vazia, como
nesta noite, sem aplausos ou sorrisos, mas repleta de
emoções, transbordante de recordações."
As cortinas se fecharam, mas nem percebi se abriram.
Hoje entendo.
Estava só, com as evidências...
 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Conto poético: Rendição ao Amor





A tarde está se despedindo de mais um dia.

Estou só, frente à uma capela, nesta  vila de

pescadores.

Os ponteiros do relógio se entendem, e apontam

para o Céu.

São 18 horas.

Uma suave melodia, prende minha atenção.

" Ave Maria "... interpretada com voz de Verônica,

apodera-se da minh'alma, nocauteia os meus

sentimentos, expõe os meus ferimentos, que já

não conseguem reagir.

Quando penso que me curei, recaio enfraquecido,

dominado pelo cansaço, esmagado pelo abraço

que, de tão ausente, meu coração se rendeu.

Os  fiéis estão chegando. Ficarão de joelhos,

ancorados em sua fé.

Alguns, agradecerão.

Outros, pedirão perdão.

Um sorriso de mulher, expressivo e delicado, me

faz entrar na Sagrada Casa.

Eu a observo, atentamente.

De joelhos, mãos postas com os dedos cruzados,

apoiando a cabeça, medita e reza, 

fervorosamente.

No que pensa, não me atrevo julgar.

Eu a conheço. É mulher de pescador, já

desaparecido no mar.

Ninguém pode avaliar a sua dor.

Mas, com Deus, conversa.

Imagino, pedir autorização para um novo amor.

A graça lhe foi concedida...

Descruzou os dedos, enxugou as lágrimas, e

da cabeça retirou, não apenas, o lenço negro,

mas o medo de outro amor recomeçar.

Julinha foi embora, deste lugar.

O jovem padre, que ouviu sua confissão,

também...