Convivi, dezenas de anos, em minha Instituição,
com um homem enérgico, austero.
De origem alemã, brilhante advogado, não
transigia, social ou profissionalmente.
Por vezes, era evitado, se dele dependesse
alguma concessão, que não estivesse calcada
no direito.
Perdeu amigos, por isto.
Mas, como era a sua vida em família ?
Sempre nutri esta curiosidade.
Esta semana, estive com os seus familiares.
Não poderia perder esta rara oportunidade, é
evidente.
Foi casado, com a mesma mulher, por mais de
meio século.
Disse-me, Dóroti:
" Um homem exemplar. Verdade.
Detentor de um temperamento muito forte, mas,
me ouvia.
Compartilhou, comigo, das mais importantes
decisões da sua vida, quer no campo social,
quer no profissional.
Conversava, olhando-me com ternura.
Tocava em meu rosto, beijando-me, como
que pedindo perdão, por ocupar meu tempo,
embora jamais haja reclamado de alguma coisa.
Chorava, ao apreciar uma orquídea que acabara
de desabrochar, ou quando tomava conhecimento,
de algo que o tocasse, emocionalmente.
Guardava todas as suas lágrimas, para derrama-las
em minha presença.
Eu o entendia.
Era uma questão de confiança, em mim, creio.
Claro, ficava muito orgulhosa ...
Quando ouviu o último apito do trem da vida, olhou
em meus olhos , fazendo uma declaração
surpreendente, dizendo-me que fez tudo errado,
pois esteve equivocado, durante sua existência.
Chorou copiosamente, levando, também, todas as
minhas lágrimas, que impediram de dizer-lhe o
quanto o amei, exatamente por ser o homem
digno, que sempre foi."
Fiquei mudo, limitando-me beijar sua face, em nome
do meu " Irmão ".