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sexta-feira, 31 de maio de 2013

Conto poético: PAIXÃO DE MOTORISTA


                     
 Ouvi esta história, de um motorista:
 "A tarde estava linda.  Pleno verão.
Em todo os lugares,  escutavam-se  músicas de Natal.
A paisagem, à beira mar, não poderia ser mais bela !
Havia horário marcado para apanha-la...
Não a conhecia. Apenas o endereço, eu possuía.
Passo à frente do mar.  Trânsito suportável, ainda.
Entro em sua rua.
Arborizada, estritamente residencial, e as crianças
brincam, animadamente.
Em minha memória, penúltima casa, à esquerda.
Linda !
Flores e folhagens, tomam conta do jardim.
Parecia um sonho.
Já estou estacionado. Não devo  telefonar.
Ela virá no horário que marcou. Garantiu-me.
Confiro se tudo está arrumado, no interior do
automóvel. Claro, está.
Percebo um movimento.
Alguém está se aproximando  do portão.
Rapidamente, abro a porta traseira do automóvel
e, gentilmente,  a recebo.
Deslumbrante !
Indescritível,  a beleza daquela mulher.
Vestido vermelho, cabelos longos, negros,  e soltos...
Seria uma  heresia detalhar o seu encantamento.
Transferiu, para dentro do automóvel, todo o perfume
das flores do seu jardim...
Cumprimentou-me com delicadeza, e uma voz macia,
como  pétalas de  rosas. Ela é a própria rosa, cheirosa...
Conversou comigo, durante todo o trajeto.
Ah, meu Deus !
Este é o lado bom da vida, que eu jamais conhecerei.
Quase  chegando ao destino, surpreendeu-me com um
convite, irrecusável.
Jantar, à noite, em sua casa...
Nossa, que emoção !
Foi tão forte a surpresa, que me  tirou do sono profundo,
em que me encontrava, esperando o patrão, no pátio da
empresa..."
 
 
 
 

domingo, 26 de maio de 2013

Poema: PALAVRAS AO POETA

 
Não sei quem és.
Nem mesmo  o teu nome, jamais ouvi.
Estás  sempre falando de flores, olhando
ao céu, procurando os teus amores.
Choras,  alheia dor...
Falas  de saudade, conversas com a alma,
como se ela  estivesse aqui.
Até as águas da cachoeira,  que alimentam
as corredeiras,  são tuas confidentes.
As montanhas te conhecem, pelos ecos
te  enaltecem, querendo contigo  falar.
Passeias nas estrelas, como se fossem o
teu lar.
Ah, poeta !
Não sei quem  é o mais feliz, se tu, sonhador,
ou eu,  que não saio deste lugar.
Quero, contigo, aprender amar, saber
escrever e falar, sobre  as coisas belas
da  vida,  dos mistérios que envolvem
o amor.
Quero que me ensines como conversar com
minh'alma, saber o que diz o beija- flor, ao beijar
o seu amor, e  com quem aprendeu o "João de
Barro",  a construir tão bela casinha.
De onde vieram o inebriante perfume do  jasmim,
e  a ofuscante luz do  brilhante ?
Somente tu, poeta,  portador  desse generoso  e
infinito jeito de amar, poderás me explicar.

terça-feira, 21 de maio de 2013

conto poético: FORMOSURA PERFUMADA


Fantástica, a nobreza do ambiente.
Incomparável, a alegria  dos casais...
Festa restrita. Muito restrita !
A música romântica, revela o amor familiar, inserido
na filosofia de vida  daquelas pessoas.
Lindo de se observar !
As mulheres, esbanjando trajes noturnos,  chamam
a atenção dos presentes, pela graciosidade.
Os homens,  dão o tom da  seriedade, ao festivo
jantar. São todos irmãos...
No fundo  do salão, uma reunião de beleza, rouba a
cena.
Não resisto, e me  aproximo.
Amor à primeira vista...
Linda !
Autorizada,  viajará comigo.
Tinha que  ser minha...
Término da festa.
Dirijo-me ao meu destino, distante cerca de 200 km.
É madrugada, e a estrada perigosa. Chove muito.
Abraço-a com  ternura,  e desfruto daquele raro
momento.
Não me canso de apreciar  sua alma,  colorida e
perfumada.
Nada fala... nem  precisa, mas fica assustada.
Temo por sua reação, ao  novo lar.
Chego, e adentro à sala.
A recepção, só é comparável a de uma rainha.
Acomodo-a  em seu trono, e recebe os admirados
visitantes, extasiados com sua beleza.
Emoções, deferências e lágrimas !
Logo, conquista o  seu  reinado,  espargindo
perfume, e  seduzindo a todos, com  sua  formosura.
Seja bem vinda, minha linda orquídea !

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Poema: MEU NOBRE CONTERRÂNEO

 Perdão, nobre amigo, mas não sei por onde eu andava,

quando  partiste da minha Terra, que também é tua.
De mim, pobre coitado eu, nunca  ouviste falar. Também...
Mas de ti... nossa !
És um gênio. Um mago das letras, da  posição das palavras,

do tempero dos sentidos.
Fico impressionado, pensando, até mesmo, que não
pertenceste a este mundo.
Mas nasceste aqui, neste modesto lugar ... então , vou
acreditar. Sou teu conterrâneo. Estou muito orgulhoso !

Nossa, João, só viveste 36 anos ?
Perdeste para  um simples bacilo, um tal de  "Koch", a tua
preciosa vida ? Por que não me pediste ajuda ?
Ah, João !
Eu teria nascido antes, só para te ajudar.

Nem permitiria que saísses deste lugar, amigo velho.
Dizem que santo de casa não faz milagre mas, contigo,
foi  diferente.  Tu, és genial !
Cometeste alguns erros na vida, que dificultaram os

teus passos. Haver nascido em pleno regime escravagista,
e ficado ao lado dos escravos, lutando pelo fim desta
aberração social.
Os teus 4 filhos  foram " assassinados" pelo teu inimigo,  este
tal de  "koch" e,  como se não bastasse o tamanho da desgraça,
tua mulher morreu louca.
Não imaginas o quanto eu lamento tudo isto.
Não sei se sabes, e talvez nem saibas, o teu corpo, aquele
mesmo que deixou o umbigo aqui, na minha querida Terra,
foi transportado de Minas Gerais, para o Rio de Janeiro, num 
vagão   reservado aos cavalos... Bonita deferência, João !
Mas, fica tranquilo,  pois já  fizeram  a mudança, e desta vez,
para a tua terra  natal.
Isto eu posso garantir.  Estive presente à cerimônia, e fiquei
emocionado... linda !
Entendo as razões políticas, mas  acho que é uma agressão
ao teu nome, sagrado na literatura mundial, quando  trocado
por "Cisne Negro".
Aprecio mais, quando te chamam,  com todo o respeito, de
JOÃO DA CRUZ  E SOUSA, ou, no mínimo, CRUZ E SOUSA,
meu grande Poeta, meu nobre conterrâneo.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Poema: ALGEMAS INVISÍVEIS

Releio, na história,  pelourinho e chibata, num
teatro  sem amor.
Gargalha o carrasco, com os gritos do horror,
até sua pele mudar de cor.
Não se abrem as algemas, nem  se  rendem 
os grilhões.
Pesadas correntes, não libertam nem a sombra
do sofredor.
Em minhas mãos, os ferros do passado me
deixam assustado...
Arranhões profundos, testemunham o
desespero, na luta  pela liberdade.
Apenas,  a liberdade, meu Deus !
O calor da forja, parece o inferno de portas
abertas. 
A  bigorna  ainda grita, negando-se  calar.
Entendo o seu falar...
Também sinto  aquela dor.
São  torturas  que  me  fazem  chorar.
São  chagas na alma,  saudade  que não 
dorme,  coração inquieto.
Sinto pena de mim.
Olho para trás,  até as sombras  se arrastam
nas correntes,  queimando na  forja ardente.
Tuas lembranças,  tua voz,  teus encantos,
 misturam-se aos meus  prantos, me fazendo
sofrer. 
São algemas invisíveis, laços de amor, tão 
fortes, que  nem o tempo, por mais  distante  
que esteja, consegue libertar.
 

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Conto poético: SOCORRO AO POETA


 Noite  escura, fria, e hostil.
A garoa gelada não perdoa, molha os  incautos
transeuntes.
Os cães vadios, à  procura de alguma coisa, que
possa  saciar a impiedosa fome, reviram tudo.
Rua silenciosa. 
Os ponteiros do relógio,  não respeitam a privacidade
da madrugada.
Avançam, sem cerimônia,  procurando o amanhecer.
Um homem, solitário e  apressado, caminha  na
direção do seu abrigo, após uma noite de intenso
trabalho.
Ainda tem disposição para observar a rotina da sua
Cidade,  já adormecida.
Sobre as calçadas, os sacos de lixos aguardam,
com ansiedade, a coleta.
Chama-lhe à atenção, uma caixa. 
Não parecia tratar-se de lixo.
Teve a impressão de ouvir  alguém chorando, em
tom de lamento.
Atendeu.
Talvez uma curiosidade, pois caixas não falam...
Dentro,  um poeta  grita  por socorro.
Apolinário José Gomes Porto-Alegre, quem diria,  uma
das suas mais  raras obras, " O  Vaqueano", jogada
no lixo, abandonada na calçada da vida...
Resgatados,  repousam em plena segurança.
O Poeta, no coração de uma linda poetisa, apaixonada
pela história da sua vida,  e pelos seus versos.
Sua obra,  na estante do amor ao  escritor,  agora,
sorrindo de felicidade !
 

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Conto poético: CONCLUSÃO PRECIPITADA

Hoje, conversava, animadamente, com um grupo de
fraternos amigos.
Homens equilibrados, viajantes do mundo que, na
vida, já presenciaram quase tudo.
Verdadeiros filósofos,  bem formados social, e
profissionalmente.
Contando  suas experiências, aconselhavam-se no
sentido de jamais se tirar   conclusão  precipitada, pois
isto, quase sempre, nos  leva a enganos lamentáveis.
Contou-me, um deles:
" Sempre que viajo para o exterior, aproveito o tempo
disponível, para visitar museus.
Estava  apreciando  um  famoso quadro, de  genial
habilidade do artista.
Parecia estar olhando por uma janela do tempo,  dado a
perfeição da tela.
Repentinamente,  passou por minha visão periférica,
um cachorro  caminhando bem devagar.
Veja só, um animal solto naquele ambiente, de tamanha
nobreza, e extrema fragilidade...
Fiquei sem entender, pois o rigor, na entrada,  é grande.
Como se poderia permitir alguém, com cachorro, no
interior  daquela casa  de cultura ?
Claro, fiquei  surpreso e preocupado, pois a cena  ficou
em  minha mente.
Ao  me aproximar da  saída, presenciei  uma funcionária
do museu, muito atenciosa, explicando a um visitante,
detalhes de uma obra famosa, citando data, autor, cores,
etc.
Ao seu lado, um obediente cachorro, especialmente
treinado para  acompanhar cegos..."

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Poema: HOMENAGEM ÀS MÃES


 
" Ofereço-te as minhas entranhas.
O meu sagrado corpo, servirá de berço ao teu
nascimento, estimado filho.
O meu amor, será tão forte  quanto o florescer
da primavera.
Jamais haverás de me esquecer...
Bendito seja Deus, que permitiu a tua fecundação,
amado filho meu.
Teus olhos, teu coração, e os teus sentimentos,
serão pedaços meus, a ver, amar,  e sentir, por este
mundo do Senhor ".
São palavras, minha querida mãe, que ouvi mesmo
antes de nascer, ainda protegido em teu ventre.
Lamento, que nenhum ser humano haja sido capaz
de resumir, numa única palavra, todo o amor que
sinto por ti.
Tudo é muito pouco, muito singelo, diante da  grandiosidade
da vida que me deste, do seio que me ofertaste, da
proteção dos perigos, a que estive exposto.
Não posso esquecer a divina felicidade que me propiciaste,
no afago do caloroso beijo de amor.
Uma verdadeira benção de Deus...
Do corte daquele cordão, que separou meu frágil corpo,
do teu corpo forte, ainda me lembro do ranger  da impiedosa
e inconsequente tesoura, separando-me da tua proteção
biológica.
Perdoa-me pelo gemido de dor, que te fiz passar.
Assim, querida mãe,  neste teu sagrado dia, quero te
ofertar o meu carinho, com um doce beijo, que te darei na
face, ou na alma, para simbolizar o quanto te amo !
 
 

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Conto poético: UM LAMPEJO DE PIEDADE

  




A  população do meu Estado, é formada por uma
etnia bastante diversificada.
Na sua grande maioria, descendentes de imigrantes

italianos,  alemães, e portugueses.
A família Tonial,  composta  pelo casal, e nove  filhos,
é um bom exemplo de colonos, dedicados ao trabalho
no campo.
Em visita a sua propriedade, contou-me várias

histórias. Ouvi, atentamente, sentado em sua
confortável varanda,  ao som  do  gorjeio dos
passarinhos, em plena liberdade.
Rondava a sua  horta, um  veado  campineiro,  
pesando  uns 50  quilos, aproximadamente.
Queria caça-lo, pois  abasteceria  sua família, por

muitos dias, com uma boa quantidade  de carne.
Muitas tentativas  foram feitas.
Todas frustradas, pois sempre perdia o seu rastro, nas
encostas de uma  montanha, com densa vegetação.
No final de uma tarde de inverno, prometeu a sua

família que traria o animal, até o começo da noite.
Armado de espingarda, e usando de montaria,
percorreu todas as picadas conhecidas.
Deparou-se com o lindo animal, bem à frente de uma

grande caverna. Estava acompanhado de sua fêmea,
e dois lindos filhotes.
Chegou a enquadra-lo  na mira da sua  arma.
Ficou assustado, e surpreso, quando  um dos  filhotes se
aproximou, e cheirou  as suas botas, permitindo toca-lo.

Recolheu  sua arma, e retornou para casa.
Mantém, a partir daquele dia,  um cocho com comida, junto
à cerca da horta, onde tem o prazer de ver aqueles animais
selvagens, convivendo com sua família.

Todos já tem nomes.
Contou-me, esta história, com os olhos mareados, e a voz
embargada.
E eu,  que imaginava estar diante de um homem rude,  sem
amor no coração...
Ledo engano.

 

domingo, 5 de maio de 2013

Conto poético: AMARGA DECISÃO


 
 
Meu grande amigo de escritório, Schmidt,  bem informado
cidadão, na área do Direito, embora não diplomado,
procurou-me, num final de expediente, para um desabafo
pessoal.
Relatou a sua vida, desde a juventude, até  aqueles  
momentos.
Abordou  detalhes do seu casamento,  da luta  pela
prosperidade material,  da educação dos filhos, e tudo
mais.
Trabalhava "dia e noite", para suprir sua amada, do
mesmo conforto em que foi criada.
Filha de fazendeiros, mimada, mas educada,  era  a
mulher desejada  por  todo homem.
Nunca lhe  deixou faltar nada.
Até um "escravo" lhe  deu.
Ganhou um "lacaio", por  ela mesma escolhido e, assim,
apelidado, que lhe fazia todas as vontades.
Pés lavados, cabelos e dentes escovados, eram tarefas
do dia a dia.
"Trocou-me por este homem, mas não perdi a dignidade."
Disse-me mais:
"Hoje, posso  confessar que  isto, eu não faria .
Mas, reconheço, deveria tê-la tratado dentro da realidade
deste mundo.
Seus pedidos absurdos, como este do lacaio,  são
provocações  que  destroem qualquer relacionamento.
Não tive este discernimento."
Sua voz estava embargada. Ainda a amava, e muito.
Soube, mais tarde,  que ela lhe pediu  perdão, e
implorou por uma reconciliação.
Ele não aceitou.
Sofreu muito, novamente...
 
 
 

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Conto poético: DIÁRIO DO LAMENTO


 
 
No  início  de  1.992, conheci, profissionalmente, um
homem  apelidado de  "Zoinho".
Estava atrás das  grades, condenado.
Trabalhador da  construção civil. Um bom  pedreiro.
Li seu "diário".
É estarrecedor.  Um verdadeiro  confissionário.
Registra  o seu arrependimento, o tempo em que está
fora do convívio social,  mencionando horas,  dias,
meses e anos.
Parece não ter fim... Senti angústia.
Um homem bruto, falando de saudade, e de amor.
Chora de dor, e sente medo...
Criado  livre  nos campos da minha terra,  como o 
vento nas  pradarias, assobiando nos pinheirais.
Agora, nem o vento  o  visita...
Trocou as vestes de  campineiro, que com tanto orgulho
ostentava, por uma  decisão precipitada...
Custou-lhe a liberdade.
O remorso devora a sua consciência, bebe a sua alma.
Disse-me:
" Minha mulher registra  todos os detalhes desta
penitência. Não posso esquecer, nem  por um minuto,
o que aqui tenho  vivido.
É um horror. Mas sei que o tempo vai passar.
Aprendi,  também , que o maior sofrimento não é o
tempo, é o que ficará em minha consciência".
Certamente,  tinha toda razão.
Acompanhei boa parte da sua vida, após  reassumir
a  liberdade.
Parecia um pássaro sem asas, correndo nas campinas,
sem forças, sequer, para  o céu olhar.
Não suportando tamanha dor,  foi  morar  nas  turbulentas
águas do Rio Itajaí  Açu...
Debruçado sobre a ponte, observo  as corredeiras, 
parecendo  lágrimas apressadas,  pela face a rolar...
São  gemidos de dor, recadeiros do horror, de um tempo
infeliz, que no seu diário  registrou...