São Miguel do Oeste.
Belíssimo e próspero Município do meu Estado.
Povo trabalhador, comprometido com uma forte
economia agrícola.
Na década de 90, o jovem José Paulo foi recrutado
pelo Exército Nacional.
Cumpria suas obrigações militares, quando a ONU,
Organização das Nações Unidas, o selecionou para
prestar serviço militar, na África.
E para lá, seguiu, levando na bagagem uma carga
enorme de entusiasmo e esperança.
Agora, é um orgulhoso "Boina Azul", um brasileiro a
serviço da ONU, um guerreiro da paz mundial.
Milhares de histórias trouxe para relatar, e emoções
que não consegue dominar.
Eu o conheci, e com ele conversei.
Hoje é proprietário de uma pizzaria, no centro da sua
Cidade.
Ostenta, numa visível prateleira, as três boinas que
usou. Em destaque, a "Boina Azul", seu grande orgulho !
Disse-me que a maior guerra que enfrentou, foi uma
história de amor.
Assistia, todos os dias, uma legião de crianças famintas,
"batendo latinha" à frente do seu batalhão militar,
implorando por comida. Todos ficavam profundamente
comovidos, diante daquela cena de miséria.
Sistematicamente, guardava sobras de alimentos, e doava
a um menino de, aproximadamente, oito anos de idade.
Esta criança, de nome "Beto", passou a trata-lo de "papai".
A amizade foi muito forte, durante os seis meses em que
lá permaneceu.
Fez uma pausa, respirou fundo, enxugou as lágrimas, e
prosseguiu no seu relato.
Expirou o seu tempo de permanência.
Avisou ao menino que estaria retornando ao Brasil, sua
Pátria.
Foi um desespero, o choro de ambos. O menino insistia
para que ele ficasse, ou o trouxesse para o Brasil.
Impossivel, as duas hipóteses.
No dia da partida, o menino correu atrás do ônibus, que o
transportou ao aeroporto, gritando sem parar.
Isto se estendeu por uns cinco quilômetros, até que o
cansaço o venceu... e sentou-se à beira da estrada.
Disse-me que ainda escuta os seus gritos... o seu choro
desesperado, embora já decorridos mais de vinte anos.
É o seu pesadelo...
Pensa em voltar àquela Terra para procurá-lo, mas tem
medo de encontrar uma realidade, talvez mais triste, ainda...