O dia passa lentamente.
À parede da minha sala, um relógio antigo.
Parece parado, tamanha a lentidão dos ponteiros.
Sente a minha ansiedade e, de propósito, marca as
horas, vagarosamente.
Escuto o barulho da sua máquina.
Adivinha que, hoje, ela chegará.
Preparo esta casa com especial carinho, parecendo um
jardim, repleta de flores e cheirosa.
Programo um jantar à luz de velas, num ritual especial,
dedicado à ela.
Selecionei, cuidadosamente, as suas músicas românticas.
Seu leito, eu mesmo o arrumei, e nem esqueci da rosa
amarela, sobre o travesseiro... quero que se sinta uma
rainha.
Esta mulher, é o meu grande amor.
Agora, o relógio me avisa que está quase na hora, do céu
chegar à terra.
Fico agitado, confiro os detalhes, e procuro me acalmar.
É, apenas, ansiedade...
Ensaio as palavras, e me olho no espelho.
Meu rosto está tenso... mas feliz.
Chega a hora. Meu coração dispara.
Ouço passos. Batem à porta.
Uma florista me entrega algumas rosas, com um bilhete.
Pede-me desculpas pois, "por motivo de força maior ",
não mais me verá.
Meu sofrimento é indescritível.
Fico desnorteado, e olho para o meu velho relógio, na
parede.
São 23.00h, mas parou, exatamente, às 20.30h,
o momento combinado para a sua visita.
Permanece parado, há 30 anos,
É fruto de uma jura.
Só voltará a funcionar, quando ela chegar...
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