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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Conto poético: O BENFEITOR

  
Este povoado de pescadores, até metade do século
passado, não dispunha de nenhuma infra-estrutura
física e social.
A instrução  escolar era precaríssima. Faltava tudo.
As famílias esforçavam-se por educar os seus filhos,
oferecendo o que podiam.
Entretanto, o que faltava de bens e serviços públicos,
sobrava em afeto e inocência,  nesta gente
maravilhosa.
O campo, então, era fértil para os espertalhões,
normalmente, vindos de fora.
Trinídio apareceu por aqui, e ninguém sabe dizer  de
onde veio.
Instalou-se num rancho abandonado, vestia roupas
incomuns, místicas, no minimo.
Barba enorme.  Uma figura que, realmente,  muito
impressionava. Parecia um catimbau.
Dizia ter vindo de muito longe... mas não mencionava
de onde.
Começou, discretamente, conversando  com os
pescadores, à beira do mar.
Daí, passou  a dar consultas sobre felicidade, futuro,
casamento, sorte, etc.etc.
Rapidamente, as coisas se espalharam com o nome de
"o velho  do outro mundo", que sabia tudo da vida.
Receitava chás milagrosos, operação espiritual, benzia,
dava passe ... e  até parto fazia.
Fácil de entender tudo isto. Pessoas  carentes.
A comunidade o transforma em Santo... e retribui com
 doações de pescados,e produtos agrícolas.
Teve que construir um galinheiro, para receber as
oferendas, que não paravam de chegar.
Era convidado para as festas  locais,  e não perdia
uma.
Cá pra nós, tudo o  que fazia ou dizia, dava certo.
Quando parecia tudo muito bem, Trinídio sumiu tão
misteriosamente, quanto apareceu.
Até hoje, comenta-se o fato, e cada um tem uma
opinião... Jamais se chegou a um acordo.

terça-feira, 26 de junho de 2012

Conto poético: O GRITO DO AMOR

 Cresci, escutando  conselhos dos mais velhos.
Falavam de educação, e também de amor.
Que tudo haveria   de  ser conquistado, por mim.
Que a vida é uma luta permanente, cheia de regras
sociais. Nem sabia o que era isto.
Os professores  eram os meus ídolos. Ainda os amo,
com muita gratidão.
Na alma, a intensa alegria, de quem com paixão vivia.
O respeito era absoluto, e a autoridade  admirada.
O homem de bem era protegido. O marginal, castigado.
Havia vergonha no ar...
O amor, intocável, estava acima de tudo, fruto do  todo.
Porém,  trocou-se , ingenuamente, o bem  pelo mal.
A justiça, pela proteção descabida, em detrimento do
valor da  vida, punindo o homem de bem.
E o povo está  sendo dissolvido. Proibido de amar,
exposto ao abandono ...
Não se sabe até quando, será escravizado pelo ódio, e
pela injustiça, encurralado por um sistema social
equivocado.
Na ausência do amor, sobra  o pranto amargo, e a
profunda dor.
Restam, agora,  as lembranças dos meus tempos de
criança, do olhar amigo e fraterno, da liberdade com a
verdade.
Desmascarada a hipocrisia,  procuro a inocência,
residente na poesia !

Poema: ESPERAREI POR TI...


Não percebeste o amor que sinto por ti.
Nem das noites que, em claro, só  pensei em ti.
Das promessas que fiz ao meu Santo Padroeiro,
implorando o dia inteiro, querendo o teu amor.
Das lágrimas emocionadas, que do meu rosto
rolaram,  ficaram as profundas marcas de quem
tanto amou, e foi  desprezado.
Dos meus olhos, agora sem  brilho, só a tristeza
restou...
Levaste a minha alegria, em troca ficou a saudade,
e  a promessa não cumprida, de um dia voltar.
A melancolia tomou conta  da minh'alma,  pois 
a única vida que eu tinha, a ti entreguei.
Nas noites  de calmaria, procuro ouvir a tua voz,
mas só o silêncio conversa comigo, e nada me
responde.
Nas ramagens selvagens, sinto o teu doce perfume,
a me embriagar, mas nada queres falar.
Sinto-me triste, e me ponho a chorar.
Sei que não queres voltar.
Mas, se a vida, as portas te fechar, a decepção te
alcançar, não importa se o tempo passou, estarei
sempre a te esperar, de braços abertos, para te
amar.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Conto poético: INVERNO


O frio chegando...
A chuva não dá uma trégua, molha e  arrasta tudo o
que encontra pelo  caminho.
A temperatura despenca. Sinto-me atingido.
Só me resta observar.
O vento açoita  as árvores, já sem folhas, violentadas
pelo outono, que passou.
Assobia no telhado, ameaçador.
Tudo está cinzento. Quase não aguento....
As folhas secas, caídas na calçada, já não podem  
reclamar, estão enxarcadas, e ao chão coladas.
Tento escutar o gorjear dos pássaros mas, apenas,  
o grito de guerra do gavião esfomeado, mantém um
sinal de  vida...
Este mórbido silêncio, aguça  minhas lembranças.
Penso nos dias vividos. São tantos. Sinto orgulho.
Já reconheço as pedras do caminho, posso evitar
os tropeços.
De onde será que vem toda esta  água gelada ?
Lamento pelos passarinhos, e os cães
abandonados que, como eu, estão com frio... e
do meu leito, ela partiu...
Por onde andará ?
Agora, além do frio, sinto saudade.
Quero falar de amor... ela não está aqui.
Sinto falta das flores, mas só chegarão com a
primavera. Esperarei.
Sei que ela virá...e me amará.

domingo, 24 de junho de 2012

Conto poético: AS ROSAS QUE NÃO ENTREGUEI



Quando menino, morador da periferia desta minha querida
terra natal, vivenciei incríveis experiências da vida,  que se
tornaram inesquecíveis.
Adolescente, e estudante do melhor colégio público desta
Capital, sentia-me muito feliz.
Flertava uma menina linda e simpática. Não me saía
da cabeça, dia e noite.
Mas, a timidez não me permitia uma melhor aproximação.
Pensei em mandar-lhe um " bilhetinho ", mas a minha letra
sempre foi um horror, e isto poderia afastá-la, pensava eu. 
Que drama !
Precisava encontrar uma solução rápida, pois outros rapazes
também estavam de olho...
Reuni minhas reduzidas economias, e comprei três rosas
amarelas, as mais lindas  expostas na floricultura.
Agora vai...
Estava de banho tomado, cabelos muito bem penteados,
com brilhantina, e vestido com a "roupinha da missa ".
Domingo à tarde, fui ao jardim, que fica à frente da sua casa.
Minhas pernas tremiam, mas não iria desistir, jamais.
Sentei discretamente num banco, com visão perfeita do portão
social.
No momento em que ela saísse, finalmente, iria ao seu
encontro e lhe entregaria as rosas, com uma ensaiada declaração 
de profunda paixão, e um pedido de namoro.
Ensaiei tudo isto, dezenas de vezes. Tinha que dar certo.
O plano não era  muito criativo, mas era emocionante e ousado,
para um jovem de, apenas, 15 anos de idade. Coitado  de mim !
De olhos fixos naquele portão, esperei por mais de duas horas,
a sua saída, talvez para ir à missa, já que a Igreja fica,também, 
frente ao jardim.
Repentinamente, tive  surpresas.
Ela não saiu.  Entrou, e acompanhada pelo namorado,de mãos
dadas...
Quase morri. Retornei para casa de ônibus, e as flores ficaram, para
sempre, naquele banco de jardim.
Nunca mais retornei aquele local.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Conto poético: FLORES DA SAUDADE


Quando olho aquela montanha, sinto um aperto
no coração.
Ela está cada vez mais linda, cheia de vida, e
me traz grata recordação.
Nas épocas do "pic-nic", em que uma inocente
criança eu era, fui ao seu ponto mais alto, com
uma doce coleguinha, e outras pessoas, também.
Fizemos promessas  inocentes.
Um dia voltaríamos aquele lugar, quando adulto,
para conversarmos, sentados à pedra, que fica à
beira de uma linda cachoeira.
Faríamos um belo lanche, em toalha branquinha.
Selamos este compromisso, com um longo aperto
de mão.
Quanta inocência, meu Deus !
Ah, sim, reveríamos, também,  as flores de nome
"maria teimosa".
Uma graça, pela simplicidade.
Nunca me esqueci deste pacto.
Soube que, aquela coleguinha, foi embora da cidade
onde morei, e que casou.
Certamente, uma conversinha  inocente mas, é
verdade,  jamais esqueci.
Foi uma paixão de criança, tenho certeza.
Agora, volto a este lugar, só para conferir as
imagens gravadas em minhas lembranças.
Sento na mesma pedra, ainda estava lá...
A água parece ser a mesma, transparente,
gelada. Matei a  sede. Que maravilha !
As recordações tomam conta das minhas
emoções.
Parecia haver decorrido, apenas, algumas horas,
e não 40 anos... Incrível.
Ah, sim, a "maria teimosa" ainda estava  lá.
Tomou conta de toda a  área sombreada  e,
principalmente, da minha saudade...
profunda saudade de alguém que  esqueceu do
carinhoso aperto de mão.
Recolhi a toalha branquinha do pic-nic,
guardando-a, para sempre, em meu coração.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Poema: QUANDO EU SAIR DAQUI...



Quero ver o vento dobrar a ramagem, sentir a
aragem da vida, da liberdade...
Ver as pessoas, livres, andando pelas ruas, 
olhando  as vitrines, comprando coisas, bebendo
água num banco de jardim.
Conversar com os amigos, fazer visitas, plantar
flores, colher as  marcelas, na Sexta Feira Santa.
Quero, até, andar descalço na geada, correr com 
a meninada no campo, e assar pinhão nas grimpas.
Escutar o canto do siriri, tão humilde e fininho...
Da gralha  pintada, a sua  animada gargalhada,
quero  ouvir.
Olhar o céu azul, tomar banho de cascata, cavalgar 
livre pelos campos, mexer  com a boiada,  escutar
o canto  da passarada, o grito do bugio na mata
fechada, parecendo comigo ralhar.
Ah, quando eu sair daqui...
Irei subir  a montanha, gritar bem alto.chamando o
eco  da minha voz, que me trará notícias do mundo.
Não  quero sentir  saudade deste  lugar.
Só voltarei para visitar, levando notícias daqui e
trazendo novidades de lá.
Nunca mais irei voltar.
Livre, quero ficar, para sempre voar.
Todo o tempo, vou amar e  sonhar.
Ah, quando eu sair daqui...para lá quero ir.



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Conto poético: PAIXÃO HIPÓCRITA

Parece uma alucinação, a força de uma paixão.
Interfere no trabalho, diminui a produção, nem mesmo
é normal a alimentação.
No repouso, por vezes sonhos lindos,  mas pesadelos
também abalam o coração.
Testemunhei um homem, completamente apaixonado,
falando coisas sem nexo, parecendo, da cabeça,
desconsertado.
Mandava recados, olhava com insistência, fazia serenatas.
Nada adiantava, pois a moça era desligada. Não queria
nada com o pobre rapaz, que já se sentia abandonado.
Certo dia, teve uma brilhante idéia.
O lugar aonde morava, era minúsculo. Qualquer conversa
de banco de jardim, logo ganhava ampla repercussão em
todo o município.
Com a ajuda de um "amigo do peito ", espalhou um boato
de  haver ganho o prêmio maior da loteria federal.
A cidadezinha ferveu. "Sabias que o Zé Carlos ganhou na
loteria federal  ? ".
Foi uma romaria à frente da casa do rapaz, oferecendo
terrenos, casas, automóveis, etc, até gerentes de bancos
foram  visita-lo.
Finalmente, recebeu um ramalhete de rosas vermelhas,
com uma declaração de profundo amor, da moça que tanto
assediou, e que parecia desconhece-lo.
No bilhete, dizia-lhe que ele era o homem da sua vida, e
que toda a sua família sempre fez muito gosto, blá, blá, blá
e  blá.
Foi convidado para um almoço, no domingo, aonde presente
estava toda a família da moça.
Tratado como um rei, até fogos de artificio espocaram no céu.
A hipocrisia foi tanta, que Zé Carlos desapareceu daquela
região, e com ele sumiu a sua paixão..., pela decepção.
Até hoje, está jurado de morte, pelas mesmas  pessoas que
tanto o aplaudiram.

domingo, 17 de junho de 2012

Conto poético: A BATINA DO PADRE

 De vez em quando, emergem, de minha remota, remotas
histórias ocorridas nesta Ilha, que vale a pena
relembrá-las, para não ficarem mofando nas gavetas.
Na década de 40, do século passado, esta Capital, com
roupagem provinciana, foi palco de uma história inusitada.
Havia um grupo heterogêneo de profissionais, que amava o
teatro amador.
Eram funcionários públicos, civis e militares, autônomos, etc.
Montaram uma peça teatral, onde exigia a figura de um
padre.
Um deles, de nome Acary, na vida real, artista plástico,
interpretaria este papel.
Homem  bem relacionado na Cidade, e de boa reputação,
não teve nenhuma dificuldade de convencer o padre da
Catedral, a emprestar-lhe a sua batina, bem nova, por sinal.
O trato era a devolução da  endumentária, na segunda feira,
sem falta, pois a peça teatral seria, apenas, no final daquela
semana. E gratuitamente.  Só por amor à arte.
Até o padre foi assisti-la.
Acary desapareceu, e o padre correu a Cidade inteira a sua
procura.
De informação em informação, chegou a casa do infeliz,
pobre, muito podre, e carregado de filhos, morando num
barraco, no alto do Morro da Cruz.
O padre, já com "o diabo no couro", bateu palmas no portão,
e foi atendido por sete crianças, todas vestidas com calças
pretas...
Uma delas, com um crussifixo bordado bem na parte traseira.
Acary,  nunca mais foi a missa na Catedral.

Poema: O PÔR DO SOL

 
 
 
 

 

Todas as tardes, solitário, venho a este lugar.
Assisto ao pôr do sol, pensando em ti.
É lindo !
Só comparável a tua beleza.
Serenamente, desaprece no horizonte...
Nunca soube para onde vai, mas sempre
retorna ao amanhecer.
É muito fiel.
Fico imaginando, quantas coisas bonitas deve
ter visto em  sua viagem.
Oceanos, montanhas, campos e desertos,
rios rasos e profundos,  diversas florestas ...
e muita gente, por todo este planeta.
Pedi, então,  que me trouxesse notícias de ti.
Demorou tanto para aprender, que etás bem
próxima a mim.
Na flores, em todas as flores, sinto o teu sutil
aroma.
Nas cachoeiras escuto a tua voz, docemente
feminina, comigo a falar.
E as borboletas, ciumentas,  parecendo bailar,
querem embora te levar.
O azulão, bem pertinho, num galho de
pessegueiro, canta sem parar, felicitando o
meu coração !
O sol tem razão.
Estás sempre por aqui.
É só prestar atenção.

sábado, 16 de junho de 2012

Conto poético: A FILHA DO MEU FILHO

 
 
 
 
 
  Fruto  de uma jóia rara, formatada pela natureza humana.
Até o céu sentiu orgulho, de entregar ao mundo, tão bela
criatura.
Em tuas veias, o teu sangue, o sangue do teu pai. O meu sangue.
A continuidade da minha vida.
A  união da  biologia,  com a essência do amor.
A expressão da menina, em forma , agora, de mulher.
Uma bela e feliz mulher mas,  para mim, sempre criança, que
me traz a esperança, da vida  continuar.
Elo de duas famílias.
Tinhas que nascer, na mesma data do sacrifício da guerreira
Joana  D'arc, bruxa, heroína, e santa, que deixou reservado para ti,
este dia,  Betina.
15 anos se passaram.
Procurei nos jardins e  nas matas, uma flor para batizar com o teu
nome.
Teria que ser bonita e perfumada mas, também, que tivesse suas
raízes cravadas numa pedra preciosa.
Não encontrei. Mas  não desanimei.
Levantei meus olhos ao firmamento,  em orações  fiz um pedido a
Deus.
Fui atendido.
Disse-me que, a partir do dia 30 de maio de  1.997, todas as estrelas,
visíveis no céu, passaram a se chamar Betina !

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Poema: ESTE AMOR ...

 
 
 Quase trágico, mas perfeito.
Contraditório, mas harmônico.
Incompreensível, mas encantador, por excelência.
Fonte do perfume  inebriante  da felicidade !
O aroma da orquídea,  alegremente  florida...
A paixão que não encontra explicação, além de uma
doce ilusão, quem sabe, até,  alucinação.
Não sei por que , se procura, sempre e sempre, algo
além da felicidade, como se esta não bastasse ...
É como querer  encontrar alguma coisa, além do
infinito...
Quando, invariavelmente,  está em nossos braços.
Basta abri-los...
Fecha-los...
Agora, já posso sentir, bem próximo ao meu coração,
o que,  em desespero, procurei na imaginação.
Estavas aqui, e eu  olhava para o nada, sem perceber
que és o tudo, em minha vida !
 Logo  a  minha frente,  sorrias com ternura, sedenta
de amor  por mim !
Tento pedir perdão, mas  me interrompes com um longo
beijo de compreensão, aquecido  pelas lágrimas que se
misturam em nossas faces, afastando, para sempre, a
louca procura,  além do infinito.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Poema: TEUS LÁBIOS

 
 
 
 Que tanto admirei, pela beleza expressiva, pela cor do
pôr do sol.
Que tantas vezes beijei, na ardência dos sublimes
carinhos...
Só falavam de amor, na cumplicidade de uma eterna
felicidade.
Eram  verdadeiros poemas, os  movimentos que
faziam.
Nem precisavam recitar, os poetas enlouqueciam.
As pessoas desejosas te olhavam, e tu sorrias,
vaidosa.
Uma dádiva da natureza !
Falavam de flores, perfumes, da vida, e da alegria.
Eram encantamentos.
Fontes  de bondade, trazendo a felicidade, que o
meu coração tanto queria.
Como chegou, me abandonou, e nem com o meu
sofrimento se importou.
Tenho rezado.
Tornei-me passageiro dos ventos, vou a todo lugar, e
a  qualquer momento, na esperança de te encontrar.
Consultei mulheres místicas.
Benzeram teu lencinho, pedindo para  voltar.
Fui às Igrejas,  implorei ao  santo de minha devoção,
fiz oração, lavei a tua fotografia na pia da água benta.
Que sacrilégio !
A Deus,  já  pedi perdão.
A ti, entreguei o meu coração.
Não sei mais aonde te procurar.
Preciso, pelo menos,  te beijar...

Conto poético: PERFUME DA MINHA TERRA

 
 
 
  Era verão. Final de tarde em minha querida Ilha de
Santa Catarina.
Um dia  maravilhoso, época de férias e muita gente
nas  afrodisíacas praias verdes, abastecidas pelas
salgadas e frescas águas do Oceano Atlântico.
As pessoas sorriem e se observam, desligadas das
preocupações cotidianas.
Lembram-me a liberdade da vida indígena.
Bem próximo de onde estava, vem o som de uma
agradável  música romântica.
Até as ondas do mar ficam serenas, apreciando a
beleza morena, das pessoas que desfilam naquele
lugar.
De repente, trovoada armada, assusta a passarada,
não querendo se  molhar.
Apresso meus passos, também quero chegar.
A chuva, molhando o caminho, levanta um perfume
de vida, talvez das sucenas, quem sabe das  bromélias.
Não sei mais o que pensar... sinto vontade de chorar.
As flores  parecem querer me cumprimentar !
O perfume é exalado da terra, do ar, do mar e, agora,
do luar.
Finalmente, e menos confuso, descubro a fonte do
cheiro inebriante.
Vem do amor à  terra em que nasci, dos amigos que
fiz por aqui, por ali e acolá.
Vem do gorjeio dos pássaros, e da noite de luar.
Mas,principalmente, da meiguice daquele lindo olhar...
da mulher que amei, e continuo a amar !

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Conto poético: EQUÍVOCO FATÍDICO

 Apreciava um habilidoso pedreiro, assentando
tijolos em minha propriedade.
Homem oriundo do interior do meu Estado, que
veio parar nesta Capital, à procura de trabalho.
Conheço muito bem a região em que morou,
pois, também,  vivi nas imediações, quando
criança.
Conversamos sobre tudo.
As etnias, os costumes culturais, e  os valentões
do local...
Confidfenciou-me que é  analfabeto.
Que gostava, em sua terra, de frequentar bailes,  e
beber  muita cachaça.
Ah, sim, também esteve preso por agressão,  com
arma branca.
Sua mulher o ajudava na economia do lar, fazendo
faxinas nas casas residenciais.
Foi informado, por um "grande amigo ", que sua mulher
o  traía com um caminhoneiro.
Ficou na espreita e constatou, realmente, parar um
caminhão à porta da sua casa, e sua mulher conversar
com o homem.
Enfurecido, atacou a pobre criatura com 37 facadas.
Felizmente, só perdeu o casamento, pois a mulher
sobreviveu, até para lhe informar que  o caminhoneiro,
por orientação sua, ia cobrar a prestação de um lindo
e moderno  televisor, para presenteá-lo em seu
aniversário, e pagando com as economias das faxinas.
" Quase enlouqueci ".
Relatou-me este acontecimento, chorando
copiosamente, embora já decorridos  11 anos...
Pediu-lhe perdão, dentro da Igreja, aos pés da imagem
do Cristo.
Perdoou-lhe.  Mas não poderia ressuscitar o casamento,
já que ele assassinou o seu amor ...

Conto poético: A CEGUEIRA POR CIÚME

  Nada precisa ser dito.
Os olhos falam, e expressam o que os sentimentos
querem  desabafar.
Presto atenção, escuto o coração.
Vejo o brilho intenso, provocado pelas lágrimas
da emoção.
Observei, durante muito tempo, em sala de aula,
um grande amigo profundamente apaixonado por
sua professora.
Moça bonita, expressão corporal incomum, aliadas
a um sorriso encantador, trazendo, com isto,  para o
seu trabalho educacional, todos os ingredientes
indispensáveis à uma grande paixão.
Ézio a olhava com insistência, e quando interpelado
sobre a matéria lecionada,  nem sabia do que se
tratava...
As  lágrimas, descontroladas, rolavam da sua face,
atestando o seu profundo amor solitário.
Tudo ainda permanecia sob controle, até que a
professora resolveu levar o seu  namorado, um militar
das Forças Armadas,  à escola, que funcionava  no
período noturno.
Chegou abraçada, esbanjando merecida intimidade...
Ézio ficou consternado. Inconsolado.
Não apenas abandonou aquela escola, para sempre,
como nunca mais foi visto na cidade.
A professora  jamais soube desta paixão, pois Ézio
não  lhe dirigia  a palavra, por absoluto respeito e
medo de assustá-la.
Procurei por ele durante muito tempo para dar-lhe
uma boa notícia.
Aquele militar,  que lhe desapertou tanto ciúme, era
irmão da sua amada...
Perdeu a chance, quem sabe, de conquistá-la.

Conto poético: O CASAMENTO

Igreja lotada e  convidados ainda chegando.
É dia de festa.
A ansiedade está no ar. Música em surdina...
Relembro toda a minha vida, que  ficou para trás.
Somente a saudade, fiel amiga, me acompanha.
Nunca  foi embora e traz, consigo, uma intensa dor.
Murmúrios e correrias à frene da Casa de Deus.
Olhos procurando a estrela maior, que acaba de
chegar.
Quase não a reconheço, de tão linda !
Aos pés do altar, o seu novo amor lhe aguarda,
enquanto, no campanário, os sinos gargalham
sem parar,parecendo de mim deboxar.
Calmamente, cruza o umbral da Santa Casa,
recolhendo os olhares  atentos.
Meu coração não suporta  tanta emoção,
deixando minha face desfigurada, rolando as
lágrimas em cascata...
Aos pés da Cruz,  fala de  amor e fidelidade,
parecendo repetir as promessas que, em meus
braços, tantas vezes pronunciou.
O mesmo Cristo, também, testemunhou.
Minhas chagas estão abertas, e sinto a sua
dor.
Ao sair, parecendo feliz,  triste me viu e
nem piedade sentiu.
Foi embora. Nunca mais voltou.
Mas, comigo, ficaram as  doces lembranças de
um grande amor !

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Conto poético: A PROMESSA DE JEREMIAS

 
 
 Conheci, muito bem, este homem.
Agricultor de origem. Nascido e criado na  região da
Serra Catarinense.
De pouca conversa, e muito trabalho.
Tem um passado de tumultos sociais.
Nos fins de semana, ainda muito jovem, gostava de
frequentar bailes na roça, próximos a sua casa.
Era um homem muito forte e, por isto, constantemente
desafiado por outros jovens, frequentadores do mesmo
salão de baile.
Coisas do interior do meu Estado.
A última briga foi fatal, para o seu desafiante...
Foi condenado  a  vinte anos de prisão,  cumpridos na
penitenciária desta Capital.
Em prisão semi-aberta, trabalhava na periferia do presídio,
e era admirado e respeitado pela vizinhança.
Trabalhou muito em minha propriedade.
Disse-me, certa ocasião, que jamais voltaria a se envolver
em brigas, e que havia prometido isto a sua  mulher.
"Estou no céu e não quero, nunca mais, voltar ao inferno."
No alto do morro, onde vivia com a sua amada, foi atacado
por outro ex-presidiário, embriagado.
Jeremias, não esboçou a menor reação...
Suas últimas palavras, ao seu grande amor: "cumpri a minha
promessa ".
Fiquei sabendo, por sua mulher, que ele estava ajudando os
viciados em álcool, a se recuperarem... inclusive quem o
atacou.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Conto poético: UM MENINO GUERREIRO

 

Esta Ilha, minha Terra natal, tem historias maravilhosas,
inacreditáveis.
Na Praia dos Ingleses, reduto de uma comunidade
pescadora, residia uma família composta do casal e seis
filhos.
O marido,  Rafael,  homem trabalhador e exímio pescador,
era um  exemplo de pai e marido.
Supria a casa, não apenas  com comida mas, também,
com amor,  distribuindo carinho, segurança e bons exemplos,
a sua mulher e filhos.
Mas uma tragédia estava traçada, nas bravias e  impiedosas
ondas do mar.
Numa noite tempestuosa, naufragou seu barco.
Quatro pescadores conseguiram chegar à terra , nadando.
Rafael não teve a mesma sorte. Foi uma comoção no  povoado.
Família desamparada...
Seu filho mais velho, Rafaelzinho, com apenas 13 anos, levantou
a cabeça e assumiu, na condição de "arrimo de família ", todos os
encargos  da casa.
Pesca com a tarrafa do seu pai, puxa redes de arrasto,  vigia
cardumes no costão, vai à rede de caceio... enfim, tudo o que o
seu pai fazia, este menino fez com maestria.
Sustentou os seus cinco irmãos, e a  sua mãe.
Estudou nas escolas públicas, e exigiu que os seus irmãos
fizessem o mesmo. Todos  casaram.
O Professor Universitário, Rafaelzinho, foi o último.

Conto poético. RELÓGIO DE PAREDE

 
O dia passa lentamente.
À parede da minha sala, um relógio antigo.
Parece parado, tamanha a lentidão dos  ponteiros.
Sente a minha ansiedade e, de propósito, marca as
horas,  vagarosamente.
Escuto o barulho da sua máquina.
Adivinha que, hoje, ela chegará.
Preparo esta casa com especial carinho, parecendo um
jardim, repleta de flores e  cheirosa.
Programo um jantar à luz de velas, num ritual especial,
dedicado à ela.
Selecionei, cuidadosamente,  as suas músicas românticas.
Seu leito, eu mesmo o arrumei, e nem esqueci da rosa
amarela, sobre o travesseiro... quero que se sinta uma
rainha.
Esta mulher, é o meu grande amor.
Agora, o relógio me avisa que está  quase na  hora, do céu
chegar à terra.
Fico agitado, confiro os detalhes, e procuro me acalmar.
É, apenas, ansiedade...
Ensaio as palavras, e me olho no espelho.
Meu  rosto está tenso...  mas feliz.
Chega a hora. Meu coração dispara.
Ouço  passos. Batem à porta.
Uma florista me entrega algumas  rosas, com um bilhete.
Pede-me desculpas pois, "por motivo de força maior ",
não mais me verá.
Meu sofrimento é indescritível.
Fico desnorteado, e olho para o meu velho relógio,  na
parede.
São 23.00h, mas  parou, exatamente, às 20.30h,
o momento combinado para a sua  visita.
Permanece parado, há  30 anos,
É fruto de uma jura. 
Só voltará a funcionar, quando ela chegar... 
 
 

terça-feira, 5 de junho de 2012

Conto poético: CORAÇÃO INEFÁVEL

 
 
 
 
 Certamente, não era  das mais bonitas donzelas,
daquele povoado.
Para agravar, era muito pobre, o que a impedia de
usar artifícios comerciais, que pudessem, de certa
forma,  minimizar  esta situação.
Ela nasceu numa época em que o casamento  era
o principal objetivo de qualquer mulher.
E, normalmente, isto deveria acontecer antes da
moça completar vinte anos de idade.
Após, a situação das núpcias já não era tão
esperançosa.
Gertrudes era a única do grupo que permanecia
solteira, e já com 24 anos de idade.
Considerada no "gancho ". Incrível.
Todos teciam comentários a respeito.
Alguns elogiosos, outros desairosos.
Esta moça era estrovertida, inteligente, e cheia
de iniciativas.
Finalmente, começou a namorar um jovem  de
nome Gaspar. Tímido e introvertido. O oposto de
Gertrudes.
Era tudo o que o destino  reservara para ambos.
Foi o casamento mais acertado do povoado.
O homem era comerciante, e sua mulher revelou-se
uma sumidade nesta área.
Prosperaram meteoricamente.  Gertrudes era uma
"mina de ouro ".
Além disto, um coração inefável.
A mulher que todo homem daria o apelido
carinhoso de  "Amélia".
De toda a turma, foi a que melhor se deu.
Fez de Gaspar, o homem mais feliz e orgulhoso
do povoado...

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Conto poético: TRANSTORNOS DE UMA PAIXÃO




Acostumado com as tormentas em alto mar, sofre,
o humilde homem, com as fortes tempestades em
terra firme.
Destruidoras, minam suas entranhas,  maltratam
seu coração. Não suporta  a decepção.
Caem por terra seus castelos, seus sonhos... seu
amor  se escoa ...
Não consegue entender,  tanta desventura.
A mortalha, como sempre,  se veste de negro.
O pescador se debate, diante da  agressão.
Sente-se desprezado, humilhado... nem mesmo a
tempestade,  tem tamanha proporção.
À beira d'água, imagina a mulher amada, caminhando
na estrada prateada, refletida pela luz do luar.
Nadando mar a dentro, desnorteado, chama por seu
nome.
Seus braços já cansados, são vencidos pelas bravias
ondas, provocadas pela tempestuosa maré.
Acaba seu sofrimento...
Núbia, sua amada, não absorve o arrependimento.
Conversa e chora, na presença das gaivotas, que
gargalham, dia e noite, clamando por vingança, pois
permanecem as fortes lembranças, de quem os peixes,
para terra,  trazia.

sábado, 2 de junho de 2012

Poema: UM ROSTO NA NEBLINA


Densa neblina.
Percebo  o teu rosto, na névoa impiedosa.
Sarcástica fuga dos meus pensamentos, deixando
o sofrimento, em troca de tão bela mulher.
Padeço da tua ausência, nem arrisco pedir clemência,
aumentando a dor que arrebata minh'alma sofrida.
Da esperança me foge a lembrança, daquela bela
criança, que se transformou na obra prima  deste ser.
Na terra, desfruto do céu, só me faltando levantar o véu,
e revelar o teu lindo olhar.
Pela janela  de vidro, vejo os teus lábios vermelhos, para
mim a sorrir, insinuando um longo beijo...
Corro lá fora mas,  presente, só a tristeza.  Foste  embora.
Teu sorriso se dissipa,  como a névoa molhando os campos.
Meus olhos, também molhados, clamam por ti.
Nem piedade merecem.
Não  te vejo mais aqui.
Desesperado, procuro acalmar meu coração, mas sinto o
teu perfume a provocar minha saudade, aumentando a
ansiedade que  maltrata meu viver.
Esta louca neblina, parece me embriagar, me fazendo sofrer,
trazendo a minha janela, tua doce imagem.
Mera ilusão,  por força da minha paixão.
Agora o sol te espanta, brilhando sobre os campos e a mata.
Posso ver tudo  bem claro, sem  engano, sem utopia.
Como é linda a luz do dia !
A hora  vai passando... nunca foi tão demorado... que maldade.
Estou tomado pela ansiedade, querendo  a volta da noite,
porque sei que virás com a neblina, visitar minha vidraça.