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terça-feira, 29 de maio de 2012

Conto poético: O NINHO DO BEIJA - FLOR



Certamente, uma das menores aves do planeta.
Também, a mais graciosa das criaturas.
Acompanhei a construção do seu ninho, ou melhor,
do seu sagrado lar.
Construído com suaves plumas, pedacinhos de
musgos, fiapinhos de folhas e aromatizantes da
natureza...
Uma obra prima. Arte inimitável por qualquer
outro ser.
De aparência frágil, colado a um ramo, pelo
garboso macho, resiste às intempéries.
Temporais de chuva e vento, não conseguem
abalar o seu alicerce.
Este palácio, tem a circunferência da  moeda
de um real, mas suficiente para acolher o seu
grande amor, seus dois ovinhos,  futuros
filhotinhos, que chegarão em treze dias.
A dedicação  do machinho, em alimentá-los, é
comovente.
Realiza centenas de viagens por dia, trazendo
no  biquinho néctar,  e essências de flores.
Chega cantando, feliz e beijando o seu amor.
É muito carinho...
Jamais abandona os seus filhinhos.
Fico pensando no ser humano...
Falta-me coragem, para fazer uma comparação.
Talvez, seja  culpa da ambição ou, quem sabe,
falta de amor...
Mas, neste campo,  sou inferior ao  beija - flor.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Conto poético: A MARCA DO BEM




Há certos dias  em que caminho, sem destino, e
sem  origem...
Absorto nas minhas reflexões, fico pensando no ser
humano... surpresas agradáveis e decepções.
Estranho o lugar aonde meus passos me levam.
Um belo jardim,  com muitas flores e frutas.
O perfume é convidativo a um breve  descanso.
O vento assobiante, me encanta.
Muito próximo as minhas costas, também sentado, 
percebo a presença de um homem, idoso.
Muito idoso.
Fico assustado, com razão, pois balbucia as palavras
que a minha mente está pensando.
Imagino estar sonhando.
Sobre as coisas que, para mim, são nebulosas e
confusas,  aconselha-me  a tratar as pessoas com
tolerância, compreendendo as suas fragilidades.
Que devo  levantar templos e monumentos  à virtude,
enaltecendo a dignidade e a valorização do ser humano.
Como poderia aquele homem estar interpretando, em
voz alta, o que eu estava meditando ?
Só poderia ser um sábio, mágico ou ...
Nem quero adivinhar.
Tomei coragem, e dirigi-me a ele.
Qual não foi a minha surpresa, ao verificar que nem banco
havia as minhas costas e,  muito menos, alguém  lá sentado.
Concluí haver sido uma projeção dos meus desejos, de
transformar  este mundo, somente com amor.
Mas havia, por coincidência, ou não, um coração desenhado
no chão, aonde vi aquele homem sentado...

Conto poético: SOLIDARIEDADE




Tenho assistido a muitas atitudes generosas.
Pessoas que fazem campanhas de socorro, em épocas
de inverno, tragédias  decorrentes de eventos climáticos,
etc.
São entes, ou entidades, sensíveis aos problemas humanos.
Louváveis iniciativas.
Mas sei de um fato que, por sua  essência, e pela profunda
admiração do gesto, merece destaque.
Dois velhos amigos  se  encontram, casualmente, em praça
pública.
Um militar. O outro civil.
O militar, fardado, estranha  a aparência de mendicância do
seu amigo. Descalço, roupas em frangalhos... e com fome.
Leva o amigo a sua casa humilde, no alto do Morro da Cruz,
e lhe oferta  o seu terno de roupas, calçado, camisa e tudo
mais.
Dá-lhe de comer e beber, além de um abraço emocionado,  e
acolhedor.
Quando o homem, finalmente, foi embora, sua mulher lhe
advertiu que havia doado o seu único traje civil.
Ao que lhe respondeu, o seu marido :
"Exatamente por isto, doei aquelas roupas, por força dos meus
sentimentos.
Caso tivesse muitas outras seria, apenas, a cessão  de algumas
coisas que estavam em meu poder, talvez sem uso.
Fico muito feliz em  socorrer o meu velho amigo.
Tenho certeza, absoluta, de que ele faria o mesmo por mim."
Incrível,  aquele homem. Não, apenas,  foi solidário a uma situação
de penúria humana, mas legou ao seu filho, que a tudo assistiu, o 
exemplo da nobreza da caridade, além  da lealdade à  uma amizade
sincera.
Eu era, somente, um menino, mas senti muito orgulho do  meu pai.
Não terei a menor dúvida de fazer o mesmo, se houver  episódio
semelhante,  em minha vida...

domingo, 27 de maio de 2012

Conto poético: HISTÓRIA DE PESCADOR





Carlos Almeida, é um dos muitos jovens, nascidos e educados
nas colônias de pescadores, desta maravilhosa Ilha.
Todos o conhecem por "Marujo", por ser exímio nadador e
apaixonado pelo mar.
Trabalhador, corajoso, um tipo bonitão e meio selvagem.
Costuma pescar lulas, até altas horas da madrugada.
Certo dia, meio sem jeito, relatou ao seu pai, antigo e respeitado 
filho daquele povoado, que levou um susto sem precedentes,
quando chegou à borda da sua canoa, uma mulher linda, de
cabelos longos, e sorridente.
Ao tentar falar-lhe, saiu nadando no escuro, em direção ao alto
mar, perdendo-se na noite.
O pai, paralisado, disse-lhe que ouvira esta história, quando
jovem, mas nunca levou muito a sério.
Marujo, ainda assustado, jurou que é verdadeira.
Certa noite, pescando no costão da "Ilha do Mata Fome", bem
próximo à  pedra onde se encontrava,  viu a mulher nadando,
velozmente, de um lado para o outro.
Apavorado, pegou sua embarcação e voltou para a praia,
acompanhado, a curta distância, pela linda mulher, que
desapareceu ao aproximar-se da praia.
Poucos meses depois deste episódio, Marujo estava  pescando
tainhas, no costão da feiticeira, quando escorregou numa pedra
molhada, bateu a cabeça, e caiu nágua.
Sem forças para nadar, e meio tonto, sentiu ser amparado por
braços de uma força descomunal, colocando-o  em cima da pedra,
salvando-lhe a vida.
Já recuperado, pode ver com clareza,  tratar-se daquela mesma
mulher, que se afastou do local, cantando uma bela canção...
Desta vez, pode observar que no lugar das pernas, exibia algo
parecido com um rabo de peixe...
Marujo evita, até hoje, repetir esta história, pois ninguém acredita,
e o chamam de "bêbado ".
Nunca mais voltou a pescar.
Seu pai, também, mas não teve coragem de contar a história, por
inteiro, ao seu filho, nem  a intensidade da paixão, que sentiu por
aquela mulher...
 

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Conto poético: PROFUNDAS RAÍZES


Voltei à terra, onde  vivi boa parte da minha infância.
Passei pelas ruas, reconheci casas, árvores e muros,
Ainda  são  os mesmos, que me  viram criança.
Que forte lembrança !
Mas não vi aquelas pessoas...
À beira do rio, uma árvore enorme, já no final da tarde,
agasalha os pardais apressados.
Gorjeiam  loucamente, da mesma forma  que nos  meus
tempos.
Fui àquela ponte, em que tantas vezes passei.
Parei, e apreciei a beleza.
Nunca havia notado.  Estava sempre apressado, querendo
chegar.
Agora, estou chegando ao ponto de onde parti.
Quantas coisas perdi.
O que vi, naquela época, não vejo mais, aqui.
Caminhei pelos trilhos, que me levaram embora.
Ainda são os mesmos que conduziram as pessoas que
mais  amei. 
Nunca mais voltarão... 
Vi as  pedras do rio, aquelas  que me acolheram nas
brincadeiras com as corredeiras, pescando  lambari.
Retorno à escola primária, em que estudei.
Encontrei,  no meio  das crianças, as mais fortes
lembranças.
As vozes são as mesmas.
Somente eu, não estava lá...
Aquele portão de ferro separa, não apenas, o externo
do interno, mas  o presente, do passado, os  tempos mais
felizes, em que as profundas raízes, ainda estão por lá,
bem vivas, bebendo água, naquele lugar...

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Conto poético: DECLARAÇÃO DE AMOR





O homem para diante do seu amor.
Tem na mente um desabafo.
Olha em sua face, pretendendo declarar o seu
grande sentimento.
O  rosto, empalidecido pela forte emoção,
denuncia a angústia armazenada no coração.
Seus  olhos estão mareados, mãos trêmulas
e frias.
A sua frente, uma mulher repleta de ternura,
acaricia o seu rosto, igualmente emocionada.
Abraçam-se. Duas almas apaixonadas.
Trocam sussurros, incompreensíveis.
As incontidas lágrimas, rolam pelas faces,
molhando  os amantes.
Os corpos tremem, os lábios não pronunciam,
apenas denunciam, por expressão, os mais
lindos ensaios de uma grande paixão.
Somente os olhos usam da palavra, e dizem
tudo o que é necessário, o que é belo, e  o
que os dois corações queriam dizer, naquele
sagrado e sublime momento.
Entrelaçados, os corpos se aquecem, as
lágrimas se estancam, mas os lábios não falam,
beijam-se loucamente, sob o som ofegante
da descontrolada respiração, e os olhos, agora, 
cerrados...
Só há tempo para o amor...

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Conto poético: SUAVIDADE


Cansado, procurei um lugar  acolhedor.
Olhava as nuvens... admirava a leveza da pluma.
Pareciam  soltas no ar.
Meu corpo não flutua.
É carregado, parecendo um fardo pesado.
Pensei nas ondas do mar, na força do vento...
Nada servia. Que desalento !
A  saudade parecia me matar.
Novamente, só penso  nela.
A  alma está ferida.
Sinto a sua ausência, na minha vida.
O abraço carinhoso, o olhar dengoso, e aquele
corpo, lindo e cheiroso... não posso esquecer.
Ninguém consegue.
Preciso  alinhar os meus  passos.
não  suporto o sofrimento.
Por piedade, o céu atendeu as minhas preces.
Retornando  a minha vida, liberta a  minh'alma.
Em seus olhos, a fonte da  felicidade, onde sacio
a sede dos meus sentimentos.
De nada mais preciso.
Agora, até meu  corpo flutua, parecendo aquela
pluma, tão forte quanto a onda do mar.
Meu coração, alegre, sem nenhuma dor, reencontra
a suavidade das nuvens,  no abraço daquele amor.

POEMA: Sereia

                  



Metade peixe, metade mulher.
Com encanto e com doçura,
Enfeitiça os homens e os mares,
cantando com força e formosura !
Sua voz ao longo é ouvida,
misturando-se às ondas perdidas,
num ritmo frenético da ilusão da vida !
Mito ou realidade, oh mutante !
Há quem jure haver te ouvido,
deitada ao longo da pedra,
levando ao fundo o incauto e o
desprotegido !
Hipnotizado pelo teu encanto,
ofuscado por tua beleza,
rendo-me fraco, como o barqueiro,
escondendo-me do mundo inteiro !

Conto poético: TRANSFORMAÇÃO





Fatos inexplicáveis.
O  Morro da Cruz, localizado no centro desta Capital,
na década de cinquenta, era uma verdadeira floresta.
Muitas  casas humildes  existiam no meio da mata.
Eram frutos de invasões de terrenos,  por pessoas que
não dispunham de  recursos, para uma morada  em 
local mais apropriado.
Curioso, vivia reconhecendo canto por canto, daquele
maciço.
Era uma  constante aventura. 
Para um menino, um paraíso, pois não existia violência,
e as leis penais  eram  para valer.
Havia respeito às autoridades, e segurança.
Chamou-me à atenção, uma mulher de idade avançada,
que passou a morar naquele morro, sozinha.
Era conhecida por Senhora  Obaid.
Corajosa, pensava eu, quando a via passar  à  frente da
minha casa, já no período noturno, para vencer um longo
e íngreme caminho, ate sua casinha, isolada das demais.
Ouvi uma história, acerca daquela mulher, que me deixou
intrigado, até os dias de hoje.
O Senhor Cantídio, carroceiro, homem que desfrutava de
bom conceito na comunidade, contou que estava
cortando capim, para alimentar o seu cavalo, próximo
à casa da Senhora Obaid, e que se assustou com gritos
de pavor, que vinham do interior da sua casinha.
Em seguida, viu a Senhora se transformar numa linda
mulher, e vários homens arrastando-se aos seus pés.
A mulher, cortando a garganta de dois cães, gargalhava
freneticamente...
Fugiu, apavorado, e nunca mais voltou aquele local.
Sempre duvidei deste relato. Mas por coincidência, ou
não, vários vizinhos reclamaram do desaparecimento
misterioso dos seus cães.
Passei a ficar mais assustado, ainda, quando li o nome
daquela Senhora, de trás para frente...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Conto poético: AUTO CRÍTICA


A multidão, silenciosa, passa a minha frente,
e parece não me ver.
Ninguém me cumprimenta. Também não me
olha.
Sinto medo. Pareço invisível.
Procuro  socorro no espelho...
Aquelas  pessoas tinham  razão. Estou diferente.
Vejo-me  desprezado, necessitando de cuidado.
No rosto, traços que não existiam, apareceram.
Não sei o que vieram fazer aqui, mas sei que são
testemunhas da vida.
São bem vindos. Estão vivos.
Olho para o mundo, menos para mim...
Sou  muito feliz, assim.
Quero ver as pessoas contentes, sorridentes,
mas os meus versos, são  feitos para ti.
Meus cabelos parecem  fugir da rotina.
A natureza é perfeita !
A cada momento,  sou uma pessoa diferente, no  
espelho.
Às vezes me assusta. É sincero, eu sei.
Mas, também, é incompetente, e superficial, pois
não consegue mostrar a pessoa que sou,  por
dentro.
Esta, sim, cresceu tanto que, certamente, não
caberia no espelho.
É o homem real, experiente, sensível e cheio de
amor.
E isto,  a multidão  não pode enxergar. 
A vida é uma permanente troca.
É preciso avaliar se a beleza, puramente externa,
é mais importante do que todas as demais
qualidades, e que somente são vistas por aqueles
que, conosco, convivem...
Estes, sim, me reconhecem !

domingo, 20 de maio de 2012

Conto poético: HISTÓRIAS DA MINHA TERRA





Esta Ilha, nas épocas em que o escuro da noite,
não recebia a luz da eletricidade, a imaginação
galopava solta.
A  iluminação, provinda da pomboca e do lampião,
provocando sombras em movimento, contribuía
muito para isto.
Os mais velhos, contavam e inventavam histórias,
para acalmar o ímpeto dos mais moços.
Os indígenas, também faziam isto.
Lembro-me de ouvir  histórias sobre grandes cobras,
que mamavam no seio da mulher, em fase de
amamentação. Em decorrência, a criança ficava
magra e morria de inanição.
Havia quem jurasse ter presenciado esta cena, com
uma cobra enorme, que habitava os engenhos de
farinha do povoado de pescadores.
Isto me  aterrorizava.
Outra crença, afirmavam de pés juntos, era a de que
as cobras, ao beberem água na fonte, depositavam
o seu veneno em uma folha e, após saciarem a sede,
recolocavam-no  à  boca.
Quem se arriscasse  a esconde-lo, seria perseguido
pelo réptil, até a morte.
Todos acreditavam, piamente, nestas histórias.
Com a chegada da energia elétrica, de  escolas, rádios,
agora televisão, computadores, e outros meios de
comunicação, a fertilidade imaginativa cedeu lugar à
outras verdades, e mentiras, muito mais prejudiciais do
que aquelas, ingênuas imaginações...

Conto poético: O FLERTE





Discreta, como ninguém,  me olhas, e  fico
feliz.
Conversamos, sem falar,  apenas pelo brilho
do olhar.
Entendo o que me dizes.  Mudo de cor, pois só
transpiras  amor...
Tua face mostra a ternura, mas também a angústia,
de quem quer se aproximar.
Presto atenção  em tua  formosura,  mas pode 
ser um olhar distraído e eu, inibido, equivocado
interpretar.
Resta-me esperar.
Enquanto isto, tuas mãos admiro, pelos gestos
delicados, na forma de tocar.
Teu sorriso me paralisa,  me enche de fantasia,
me faz flutuar.
Mas tua simplicidade, sim, é o contraste com a
majestade, desse jeito meigo de falar.
Não sei por quanto tempo, vou suportar o silêncio.
Estou envolvido em tua beleza, nessa alma, sem
tristeza, me fazendo sonhar.
Como é bom contigo flertar !
Imagino tudo o que gostaria, de ti, ouvir.
Abraço o teu corpo... que  mesmo estando ausente,
me dá o presente, da tua boca beijar.
Hoje, mesmo, te vi passar.
Contive meus impulsos, pois queria minha paixão
confessar.
Novamente, olhaste em meus olhos, com brandura,
carinho, e ternura.
Fiquei desconsertado. Tinha alguém em meu lugar ...
 

sábado, 19 de maio de 2012

Conto poético: VOLTA AO PASSADO


Era uma escola noturna, como tantas outras existentes
nesta minha Cidade.
Por vezes, o cansaço impiedoso da rotina e do esforço,
trazia ao semblante a exigência do descanso.
Mas eram guerreiros. Não desistiam.
Dia, após dia, seguindo-se meses e anos, lá estavam
eles, crescendo como uma robusta figueira.
Certamente por saudade, revisei todos os nomes que
decoram  o  modesto "quadro de formatura".
Os professores, na grande maioria, já se mudaram desta
vida, assim como alguns colegas.
Inacreditável a diversidade de caminhos, que  cada um
seguiu. Todos venceram.
Voltei àquela escola,  sentei-me na mesma carteira,apaguei
as luzes e, apenas, a claridade exterior iluminou aquela sala
 de aulas.
Juro, ouvi as vozes dos alunos,e  o vulto dos professores...
mergulhei no passado.
Nem acreditei no longo tempo que já passou.
Rezei, agradecendo a Deus a vida que me indicou, e 
preservou.
Orei, também, por todos os que já  partiram.
Beijei a carteira que me acolheu, durante  todos aqueles anos.
Da mesma forma, acariciei o "quadro negro", e a mesa dos
professores. A porta, janelas e as paredes, ainda são as
mesmas...
Não havia notado, até então, como são  belas estas
coisas...
Creio, que somente a maturidade  me deu esta  visão.
Mas a incrível coincidência,  estaria reservada para o final
daquela visita.
Reencontrei  um dos meus mestres. O Professor Braga.
Que pena, não conseguimos falar nada...
as lágrimas não permitiram.
Mas, que abraço, meu Deus !
 
.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Conto poético: POBREZA FELIZ




Altos do Morro da Cruz. Centro da minha querida
Cidade.
Uma pequenina casa,  construída de madeira,
certamente, restos de materiais de construção,
com vinte metros quadrados.
Lá, moravam Miranda e Iraci.
Ele,  ex presidiário da penitenciária desta Capital.
Ela, mulher pobre, oriunda da periferia.
Tive o privilégio de frequentar a sua casa, quando
menino.
Lembro-me do quanto era humilde aquele lar.
Tudo foi por ele construído.
Fogão à lenha, feito em tijolos reaproveitados.
Cama de tábuas, com colchão de capim.
Mesa com bancos, todos rústicos.
Luz elétrica e  água encanada, nem pensar.
A água era no pote de barro,  trazida de uma
fonte próxima. E a luz, à base da pomboca.
Tudo humildemente instalado.
Mas havia uma grande riqueza,  naquele lar,
que dificilmente se encontra em outro lugar.
A  felicidade do casal.
Era contagiante,  o  relacionamento.
Sorriam e brincavam o dia todo.
Era só carinho.
Era só amor...
Um dia, tomei coragem,  e disse ao  Senhor
Miranda o quanto admirava  todo aquele amor.
Falou-me, então, que  eu o entenderia.
"Eu morei no inferno, meu filho. Não  tinha 
liberdade de ir e vir.
Estava cercado  por  grades, muros altos e
guardas,  fortemente armados.
Vivenciei a humilhação.
Veja só a diferença. Moro neste palácio, cercado
só de amor, por um  anjo de  mulher, e posso
trabalhar.
Minhas porta e janela estão abertas. 
Aqui moram a liberdade e a felicidade.
Por  isto,  sorrimos durante todo o dia..."
E eu, nada tive a acrescentar... nem tenho.

Conto poético: MENINA DE RUA


Centro  antigo da minha Cidade.
Ruas  estreitas, prédios  tombados, mal iluminados.
Fazem parte da história.
Lembram o bem e o mau deste lugar.
Há mendigos, infelizes criaturas, sem endereços,
sem amigos, sem conhecidos...
São fortes. Sobrevivem.
Ah, sim, muitas prostitutas.
No meio desta legião de zumbis sociais, avisto um
ser pequeno, esquálio, maltrapilho.
Bípede, caminha.
Curioso, vou ao seu encontro.
É um ser humano ! Uma menina com,  aproximadamente,
13 anos. Nem ela sabe ao certo.
Veste  roupas de adulto e doadas, também desdentada.
Arisca, como o vento sul, evita meu contato.
Converso com uma mulher, que faz  "ponto" naquela rua.
Satisfaço a minha curiosidade.
É filha de uma lata de lixo, pois ninguém  quis assumir o
parto.
Disse-me mais :
"Pode, até, ser filha de alguém da sociedade, que não
podia assumir a vergonha de ter um filho.
Por aqui, na época em que foi encontrada, nenhuma das
mulheres estava grávida.
Então, a vó Zita a criou como pode,  por piedade.
Ela se nega a trabalhar como nos.
Muitos fregueses  querem ela, pagam bem, mas ela
não aceita. Diz querer ser gente diferente deste mundo.
É uma boba..."
Pois bem.
Esta "boba" é, hoje, uma respeitabilíssima senhora casada,
Assistente Social,  dedicada às crianças abandonadas da
minha Cidade... mesmo sendo filha de uma lata de lixo.
Não sei bem onde está a poesia deste conto.
Mas, verdade, também é poesia, principalmente, nesta época
de tanta hipocrisia.
 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Conto poético: O Comprador de Sorrisos




Raimundo Cabo Verde, era quase um mendigo,
um morador de rua, que habitava a região do
mercado público, da minha terra.
Homem educado e respeitador.
Claro, muito carente de atenção, pois era pobre,
e maltrapilho.
Ganhava alguns trocados, durante a semana,
em serviços de entrega aqui e acolá.
No final do dia, revirava as latas de lixo, à procura
de sobras de alimentos, para sobreviver.
Uma triste realidade.
Mas, no sábado, à tarde,  na torneira pública do
mercado, se lavava, penteava os cabelos e até 
de roupas trocava.
Com perfume de sabão barato, colhia do jardim
da praça, algumas flores bonitas, e circulava pelo
centro da Cidade, já com pouca gente.
Conhecia os pontos certos...
Quando tomava interesse, se dirigia a uma bela
moça e, educadamente, lhe ofertava a margarida,
calêndula, boca de leão e, também, o seu coração.
A mulher, gentilmente, lhe agradecia, sorria, e ia
embora feliz, com o gesto daquele amável homem,
afinal, desconhecido.
Raimundo era meu amigo. Vinha de uma família de
trinta e dois irmãos, todos filhos de um mesmo pai,
e de dois casamentos.
Certa vez, confessou-me que fazia isto, apenas
para ganhar um sorriso de mulher, e ouvir a sua
voz  agradecendo...

Conto poético: SAUDADE ALUCINANTE






A sutileza da saudade, me traz de volta
doces emoções, vividas no passado.
São lembranças tão presentes  que,
embora estejas ausente, ainda me fazes
chorar e sorrir.
Foram momentos de rara felicidade, não
importando  que a saudade, venha tomar
conta de mim.
O que seria da minha vida, sem as lindas
recordações que trago de ti ?
Aquela roseira amarela, junto  à janela,
não para de florescer, parecendo exigir a
tua  volta,  para continuar a viver...
Cada rosa que  se abre, guardo as pétalas
com carinho, para enfeitar teu caminho,
quando retornares  a este lugar.
Mesmo sequinhas, não perderam o perfume,
me  instigando ciúme, me fazendo sofrer...
Nas  frias madrugadas, olho a cama com
o teu lugar vazio, meu corpo exigindo o
teu abraço, meu coração em pedaços...
não consigo dormir.
Amanheço como deitei.
Mais uma noite de profunda solidão,
dominado pela louca vontade, de  tornar
realidade, esta saudade alucinante que
sinto de ti !

terça-feira, 15 de maio de 2012

Conto poético: A VENDEDORA DE AMOR


Há quem outros nomes atribui, àquela que  oferece
amor.
Conhece as esquinas da vida, como ninguém.
Tolerância, beleza, e compreensão, são  virtudes
do seu coração.
No campo das  emoções, ouve as lamentações,
iluminando  obscuros caminhos.
Vende amor diferente, a  pedido do cliente,
oferecendo formosura e ternura... que loucura !
Sem direito de amar, quem lhe amou, distribui
alegria, para  colher  surpresas.
Em seus olhos, posso ler com clareza,  o que restou
da sua beleza. Apenas, tristeza.
Lembra-se de muitos que a amaram, do gemido que
deixaram, das promessas de voltar, e não voltaram.
Em todos  acreditou.
Era só passageiro, homem  forasteiro, nenhuma
saudade  levou...
Hoje, decorridos tantos anos,  seu corpo sem os
encantos,  já não parece aquela mulher...
Ainda reconhece as esquinas, que tantos homens
chamou, ofereceu, pediu e amou.
Sozinha com as suas lembranças, ao ver passar
uma criança,  chora de saudade,lembrando da sua
inocente infância,  que outro rumo  tomou...