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domingo, 8 de abril de 2012

Conto poético: ESCADA SEM DEGRAUS




Foi um bravo guerreiro urbano.
Todas as dificuldades que possam ser imaginadas,
este homem as enfrentou, com muita dignidade.
Nas madrugadas,  o via passar à frente da minha
casa, revirando os sacos de lixo, antes que  fossem
recolhidos pelos caminhões da limpeza pública.
Procurava por materiais recicláveis.
Mal respondia ao meu cumprimento.
Sempre apressado.
Fiquei compadecido. Pretendia  lhe doar algumas
roupas usadas, pois tinha, mais ou menos, a minha
estatura física e, certamente, poderiam  fazer-lhe muito
bem.
Num rápido contato, gentilmente me agradeceu e
prometeu retornar, durante o dia, para apanhar  as
oferendas pois, naquele horário, estava muito ocupado
com a "vistoria dos sacos de lixo".
Dois ou três dias após, foi a minha casa para receber
as roupas, que lhe havia prometido.
Residia numa favela, nas proximidades do meu bairro.
Disse-me  ser analfabeto, sem nenhuma profissão
definida.  Que chegara do interior do Estado, para
tentar uma vida melhor na cidade.
Até aí, uma história como tantas outras que já ouvi.
O diferencial  é que tem uma filha estudando numa
universidade pública,  na sexta fase do curso de  
odontologia, numa capital  vizinha a este Estado.
E o seu filho está concluindo  o ensino fundamental, e
deverá prestar vestibular, no próximo ano.
Sua conversa transita nestes  termos, com tamanha
familiaridade, que me comoveu.
Disse-me  ainda:  Não consigo ajudá-los mais do que já
faço. Sou como uma escada sem degraus. Não sirvo
para nada.
Deu-me um nó da garganta, ao ver sua angústia e as
lágrimas rolando a sua face.
Evidente, que lhe disse muitas coisas verdadeiras, como
o grande exemplo de humildade e  honestidade, que estava
legando a sua família.
Mostrei-lhe  caminhos para  conseguir apoio público, etc
Mal sabia que,  ele próprio,  era os degraus da escada  da
vida , de que tanto necessitava aquele casal de filhos, hoje
formados... e reverenciando o grande exemplo, e a memória
de um "catador de lixo ".

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