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sábado, 31 de março de 2012

Conto poético: REMINISCÊNCIAS


Doces lembranças acabam de invadir meu coração.
Aquela casinha humilde, que nem assoalho tinha,
era de chão batido,  mas bem limpinha.
Não possuía parede inteira, era só meia parede, e a
porta de chitão.
O forro era luxo. Não existia.
Em noite de vento forte, até o cabelo se mexia.
O pavio  da pomboca, não parava de dançar, dando
animação, parecendo assombração.
O fogãozinho, à lenha, funcionava noite e dia, e água
quente sempre tinha.
Na meia porta, pelo lado de fora, pendurada na parede,
uma bacia de alumínio, para o ritual do lava-pés,
acompanhado de um banquinho.
Nos quartos, alguns pregos fincados na parede, para
as poucas roupas pendurar.
Cama rústica, colchão de palha de milho, que  no
silêncio da noite, toda vez que alguém se mexia, parecia
falar.
Mas isto era privilégio de poucos, pois a grande maioria,
na esteira dormia. E, assim, nem barulho fazia.
No lado de fora, muitas  coisas boas existiam.
Um galinheiro com  muitas  aves.
O galo carijó cantando, era uma harmonia. 
o arame farpado  estendia  a roupa molhada, e bem
limpinha.
A tarrafa estendida no bambu, parecia de braços
abertos, esperando o tarrafeador.
Quanta saudade, meu Deus.
Lá morávamos todos nos, inclusive a felicidade ...

Conto poético. SALA DE ESPERA

Necessitava ver o mundo por inteiro.
Parecia tão pequeno, me pus a caminhar.
Atravessei vales, montanhas e oceanos.
Olhei para o céu e para a terra, queria
alaguna coisa encontrar.
Falei com o vento, recadeiro da esperança,
me disse que te viu passar.
Segui teu aroma, até um pé de jasmim azul,
tão raro, mas verdadeiro,  como   o meu amor.
Encantado, como o beija-flor branquinho,  continuei
o meu caminho, pensando somente em ti.
As borboletas coloridas, cruzavam  a minha frente,
parecendo querer de alguma coisa me avisar.
Misteriosamente, toda a mata silenciou.
Pude escutar as batidas do meu coração, ansioso
pra te encontrar.
Que emoção !
Distante, lá na linha do horizonte,  meio a uma
bruma diferente, avistei o teu rosto, como sempre,
sorridente.
Corri em tua direção, mas  a nuvem, misteriosa
nuvem, ... te levou para bem longe.
Não consegui te alcançar.
Mesmo assim,  senti-me  feliz, ainda que por alguns
segundos, por saber que estás neste mundo, quem
sabe, a me procurar.
Enquanto  não chegas, converso com os passarinhos,
aspiro o perfume da linda rosa amarela, e continuo, na
sala de espera,  contigo a sonhar... até que me mandes
embora, ou me convides para entrar ...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Conto poético: DESCONECTANDO

Término.
Ponto final.
O sentimento  enlouquece.
O coração emudece.
É dolorosa  a aflição.
Meu sol  perdeu o  calor.
Transformou-se em cinza, nada restou.
Até  Phoenix,  me abandonou !
Somente a saudade, amarga e  teimosa, ficou.
Agora, uma lua  bonita, brilhante como as estrelas de
Deus, surge no horizonte !
Estonteante de saudade, ilumina minha passagem,
não me deixa sofrer...
Tão  linda  quanto o sol, brilha nas trevas, dispersa
minha dor, oferecendo o calor que o astro rei, ingrato,
me negou.
Olha-me com  ternura, ainda que distante,nas alturas,
promete  me amar.
Vela pelo meu sono, entra pela janela, e no aconchego
do meu leito, vem comigo se deitar.
Expulsa o meu sofrimento, aquece os meus loucos
desejos, e me ajuda a esquecer daquele lugar...

Poema: UM LEITO PARA DESCANSAR

Tudo parecia tão bem.
Parecia, sim...
A água,  límpida  e  fresca, descia  pelas corredeiras
da vida, à procura de guarida, que a sorte não lhe deu.
Bloqueada pelas pedras do caminho, gemia noite e dia,
parecendo agonizar.
Por socorro  implorava, queria parar de brigar, procurando,
tão somente, um lugar pra descansar...
Mas as pedras, insistentes, pareciam dormentes, não
saíam do lugar.
Um  remanso a água queria, pois gostava de lá estar.
Fez de tudo para a  paz  reinar.
Assim, como a água do  riacho, vou tentar rio abaixo,
um cantinho para o meu coração repousar...
Mas,  desta vez, não quero confrontar.
Das feridas, levo as marcas, não  posso  evitar.
A saudade e a dor, como as águas da corredeira,
arrastarei a vida inteira,  mesmo estando em outro
 lugar.
Agora, posso soltar minh'alma pelas  verdes matas,
apreciar o sol, a lua e o mar.
Abraçar  o amor, sem dor, sem rancor e sem temor,
pois, desta vez,  as pedras não estarão por  lá.
Quero, apenas, um novo leito, que me permita
descansar...

quinta-feira, 29 de março de 2012

Conto poético: NA TRILHA DO OUTONO

O "aviso prévio"  da natureza, acaba de chegar.
O  verão terminou.
O inverno  bate à porta, quer entrar.
O outono  chegou.
É, somente, uma  transição, um prazo para o clima
mudar.
Acontece, assim, no amor.
Encerra-se um ciclo... certamente o mais lindo  e
ardente já vivido.
O mais belo e cheiroso jardim, já construído, mas,
pelas ervas daninhas,  destruído...
Como o clima, o sentimento também migra, vai morar
noutro lugar.
 A primavera, da mesma forma chegará, e com ela a
nova vida ... as lindas flores, o aroma renovador do amor,
e da felicidade.
No meu jardim, não voltarão as flores que por lá já
passaram, encantando sem perfume, envenenaram o
beija-flor, enganando  o meu amor.
Agiganta-se minh'alma, cicatriza a profunda ferida, 
para aguardar um novo sol brilhar.
Desta vez, com a experiência colhida, vou olhar melhor
pra minha vida, não deixando as ervas malditas, no meu
jardim se criar.

Conto poético: UM VELHO SONHADOR

Nesta manhã de outono,  sentado frente ao mar, sem
preocupação ou  qualquer compromisso, conversei com um
homem de  idade avançada, digamos, um "velho sonhador ",
prefiro, assim, identificá-lo.
Sabe ouvir, mede as palavras...
Conversa sobre a vida e a morte, a saúde e a doença, fala
da felicidade, como sendo um  bem maior, tão grande quanto a
vida.
Comenta sobre o tempo que já passou,  amizade, lealdade,
honestidade.
Enfim, realça as virtudes mas, também, comenta sobre os 
defeitos humanos.
Disse-me uma coisa muito interessante: 
"devemos levantar templos às virtudes, e cavar masmorras aos
vícios ".
Creio, até, já  ter ouvido esta frase... pode ser engano meu.
Falou de amor e,  neste  momento, se emocionou profundamente.
Tentou disfarçar as lágrimas que lhe rolaram à face, mas não
conseguiu fugir  a minha  discreta e respeitosa  percepção.
De paixão e desejo, também comentou.
Meu Deus, eu estava diante de um sábio, um pensador, disfarçado
em  sua simplicidade.
Eu, sim, era o ignorante.
Deu-me lições claras sobre a paixão.  Deve  ter  percebido as
minhas  angústias afetivas ...
Disse-me, entre outras coisas,  que é um  episódio de fundo  
emocional, normalmente passageiro. Que o importante  é ter
consciência disto, e saber distingui-la dos desejos, que também
são temporários.
Levantou-se, apoiado em  sua bengala  rústica, e despediu-se
cordialmente, prometendo voltar no final da tarde, para
continuarmos a conversa.
Não considero desta forma mas, sim, uma excelente aula,  no
campo das relações humanas, proferida por um  homem  que
apreendeu  tudo com a vida...

Poema: A PROMESSA

Somente de lembranças, de doces lembranças,
 viverei.
Convencerei meu coração, ainda despedaçado,
daquele amor esquecer.
Prometo não mais olhar para trás, e dos olhos
dela, bem  longe estarei.
Quando sentir o aroma das flores,  apenas  do
jardim recordarei.
Sua voz não mais escutarei. Já estou distante
daquele  lugar...  posso jurar...
Do canto dos passarinhos, ouvirei só o lindo
gorjear.
Expulsarei a dor tormentosa, que  pretender ficar.
Chega de sofrimento.
Das  coisas amargas, não quero me lembrar.
Irei  em direção ao sol e ao luar.
Será uma caminhada longa mas,  ao destino,
haverei de chegar.
Estarei muito distante deste lugar, e minha estrela
guia, me acompanhará noite e dia.
No regresso, triunfante me sentirei, e na bagagem
trarei, belas recordações  de onde passar.
Usarei caminhos diferentes, avistarei muita gente, 
não quero mais me confrontar...
Desejo, apenas e tão somente, a paz reencontrar !

Poema: A DESPEDIDA DA SAUDADE

Ah, esta tristeza que invade meu coração, aperta os
meus sentimentos, angustia minh'alma.
Este vento gelado, que desrespeita o meu cansaço,
vem dela me falar.
Vejo bater a minha porta, impaciente, querendo
entrar.
Escuto o lamento das folhas secas, na calçada a
rolar,  sem vida, parecendo  a morte anunciar,
deixando triste este lugar.
Pela vidraça, vejo as árvores se debatendo, parecendo
com o vento  conversar.
Estão despidas, sem folhas, sem frutos e sem flores.
Parecem zumbís, vagando sem destino.
A dor está presente.
Lembram o meu sofrimento, a perda de um grande
amor.
Fico abraçado às amargas lembranças, de quem
outro rumo tomou.
Nada restou.
Nada representou...  nem mesmo as lágrimas, e as
juras de amor.
Tento, em vão, vê-la no infinito, mas só permanece
o cruel vazio da  ausência.
Até as flores me abandonaram, e o perfume  se
mudou.
Mas a saudade, minha  fiel  companheira, comigo
ficou, prometendo ir embora, somente quando chegar
um  novo amor.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Conto poético: FALANDO COM MINH' ALMA




         
 Atormentado por uma louca paixão, iniciei uma
caminhada, sem fim, no interior da minh'alma.
Havia caído a tarde e o sol, já por trás dos montes,
permitia, à noite, se apossar da minha imaginação.
Mergulhei profundamente em meus pensamentos,
rebuscando verdades, enterrando fantasias.
Falei com o passado. Com os mortos, também conversei.
Surpresas e decepções, pavimentaram a longa estrada
da  minha vida.
As sombras, claro, me aterrorizam, pois representam as
dúvidas e as incertezas.
Por vezes, até me confortam.
Nessa estrada, pavimentada com flores e espinhos,
estavas lá.
Aspirei o aroma do intenso amor, oferecido por ti. 
Parecia tão generoso, que até  nem mereci.
Embriaguei-me de tanto amor.
Fiquei cego, não enxerguei a dor.
Contigo, aprendi tantas coisas...
És brilhante como as constelações. 
Uma santa para ser amada. 
Jamais desejada...
Assim, sigo o meu caminho, sem flores, é verdade, 
mas também, sem espinhos.
De ti, levo as agradáveis lembranças, e o doce
perfume exalado pelo jasmim, plantado naquele
belo jardim...  por ti, e por mim.

Conto poético: FOLHA SECA

Jogada à sarjeta, abandonada como lixo,  recolhi uma
triste folha seca.
Segurei-a em minha mão, com cuidado e emoção.
Parecia querer falar mas, só gemia.
A  pele seca, deixava à mostra suas veias que, um dia,
tanta seiva alimentou.
Jogada ao sol causticante, sem piedade, o vento errante,
da sua árvore arrancou.
Tenho que segurá-la com delicadeza, pois se aperto chora
de tristeza, lembrando da vida, tão verde, que o outono lhe
tirou.
Estou igual a ti, folha seca. Meu amor,  o destino  tirou, e nem
sei para onde levou.
Tu tens a certeza de que, após o inverno, chegará a primavera,
com as folhas verdes e as flores cheirosas.
Tu pertences a outro reino, aonde tudo é verdadeiro.
Não há inveja, ou traição...
Mas o meu é animal.  É injusto, é mau.
Viceja  a incompreensão e a maldade.
Comparado a ti, não sou nada.
Estou morrendo de saudade...
Agora, só,  vago por este mundo de Deus, à procura de uma
linda flor, filha do teu reino, folha seca,  que possa meu coração
alegrar.
Que não tenha espinhos nem garras, não quero esse amor
machucar. Somente amar...
Enquanto a minha rosa não chega, vou  levar esta folha, que já
foi verdinha, para comigo sonhar.
Quem sabe, com água fresca e com carinho, novamente, verde
ficará...

sexta-feira, 23 de março de 2012

Conto poético: CONFISSÕES DE UM GRANDE AMIGO




Podemos viver por mais de um século e, no final, nos
questionarmos a quantos amigos poderíamos confiar
algum segredo, considerado, até  então, inconfessável.
Pois esse meu amigo, não tinha essas características
de um homem tão velho.
Mas era um homem vivido. Certamente, muito experiente.
Trabalhamos juntos, durante anos.
Reconhecíamo-nos confiáveis.
fez-me muitas revelações que, segundo ele, não as faria
nem a um irmão, ou a um pai.
Por vezes, ficávamos até altas horas da noite, trabalhando,
E  era nestes momentos, possivelmente de nostalgia,  que
ele fazia os seus desabafos.
Casado com uma mulher, aparentemente maravilhosa, cinco
filhos, belos e bem  educados.
Uma família  feliz.
Sua mulher não poupava elogios ao marido. Tenho certeza,
não eram gratuitos.
Certa noite, entre um processo e outro, deixou-me sem fala.
Disse-me que possuía mais onze filhos, fora do casamento, e
que todos eram criados com muito amor, por suas mães e com
sua permanente assistência.
Pediu-me, veja só, que no seu velório, eu contornasse o possível
tumulto que se formaria, e a desmoralização que se daria,  do
seu nome.
Pediu-me isto, porque  sabia da gravidade da sua  enfermidade...
Dito e feito.
No lado de fora da cerimônia, lá estava eu,  diante da situação
mais difícil da minha vida.  Mais três viúvas chorando, felizmente,
sem os onze filhos.
Ninguém entendia nada. Nem eu que, diante disto tudo, creio
conhecer, apenas, uma parte  desta história... e da vida complicada
do meu grande amigo...

terça-feira, 20 de março de 2012

Conto poético: CHUVA DE LÁGRIMAS

Rejeitado, mandaste-me embora.
Obediente, sigo meu caminho, levando na bagagem da
vida, somente sofrimento.
O lamento, noite e dia, serve-me  de guia.
Não tenho destino.
O riacho de água limpinha, reflete meu semblante, sofrido
e  errante, imaginando teu rosto beijar.
Prometo a Deus não mais te  amar...
Violo a promessa Divina, enlouqueço de tanto pensar.
Procuro por ti na terra e no mar. Falo com os vivos.
Falo com  os mortos.
Mas não consigo, contigo, falar.
As flores me disseram que passaste por lá, mas só o
teu perfume senti no ar.
Até a dignidade já perdi.
Nada mais há para perder.
Cada dia que passa, aumenta o meu sofrer.
Olho a rosa amarela, tão cheirosa e tão bela, na
esperança de te ver.
Tua imagem, aquele lugar... tão lindo, tão próprio
para amar... são essências do céu,  canteiros de
estrelas, caminhos macios de hortênsias , regados
com as minhas lágrimas, tão intensas, de saudade !

Conto poético: AMOR SEM PRISÃO

Os tempos mudaram.
Conheci mulheres lindas, quando solteiras e, quando
casadas, em bruxas  foram  transformadas
A bainha do vestido, foi lá pra baixo.
Maquiagem,  que  maldade,  nem pensar.
Blusas afogadas, pois dos seios, nem vestígios.
Os cabelos, nem podiam, com arte,  pentear.
Sinceramente, não sei aonde queriam chegar.
Conversar com um homem, parada na rua, já dava
o que falar.
Cabeça para baixo, olhando o chão, era o recomendado.
Enfeitar-se, só para o marido.
Que submissão desastrosa, meu Deus.
Nem por isto existia mais, ou menos, fidelidade  que nos
dias de hoje, me parece.
Menos, só felicidade, creio eu.
Mais, somente sofrimento, tenho certeza.
O coração só se submete à prisão, pelos laços do amor
correspondido. Jamais pela imposição.
Entre as quatro paredes, segredos que nem o inferno
conheceu.
Mas, "arrumar a mala", e ir embora, não era coisa para
mulher séria.
Sofrida heroína, santa infeliz, meu reconhecimento pelo
grito de pavor, que na garganta entalou, e com medo do
mundo, jamais soltou !
Hoje, olha de frente, sem mágoa e sem rancor  para,  com
liberdade, melhor escolher o seu verdadeiro amor !

Conto poético. A PERDA DOS SENTIDOS

Aprendemos, desde pequenino, que nada, neste
mundo, é eterno.
Até mesmo nossa vida.
Alguém já disse que o homem não pretende viver
muito, apenas eternamente.
Sempre que perdemos algo, pelo decurso do tempo,
ou por outra razão qualquer, ficamos inconformados.
A perda de um grande amor, então, é uma tragédia.
Não aceitamos.
Parece que o mundo desabou.
Mas é  porque mexe com os  sentimentos.
Golpeia a alma.
Torna a  dor  insuportável.
Perdemos os sentidos...
Nossa visão fica turva, e as estrelas  já não brilham
como os diamantes.
Não ouvimos  mais o canto dos passarinhos, a nos dizer
que tudo continua belo.
O paladar nos abandona, e nem o mel parece doce.
Nosso corpo nos proíbe de abraçar um  novo amor.
O jasmim perde o perfume.
Não sabe mais onde está.
Nosso coração, coitado, bate descompassado.
Estamos perdidos, isolados... sem sentidos...
Somente  aquele grande amor, pode tudo isto,
novamente, consertar...

segunda-feira, 19 de março de 2012

Conto poético: PAIXÃO DE POETA

Homem  triste, sensibilidade  fraturada e exposta,
caminha trôpego  pelas estradas da vida, tentando
sua ferida cicratizar.
À cabeça, nenhuma proteção .
No coração, só sentimentos e recordações.
Ressentimentos, também.
Procura o que perdeu, ou levaram. Não importa.
Perdeu....
Deveriam ter levado, na mesma bagagem, as
lembranças. Os lamentos.
Estes ficaram e maltratam. 
Fratura exposta, dói.
No coração do poeta, esta dor potencializa,
atormenta e penaliza,  quem nenhum crime
praticou.
Levaram o seu amor. Deixaram a dor.
Desabafa o seu sofrimento, conversando
com o seu grande amigo, um branquinho
beija- flor.
Recebe o seu carinho, pois sua companheira,
também, o abandonou.
Para outro jardim, se mudou.
Até a corujinha voltou, e sua face beijou.
A lua, piedosa, chegou mais cedo, para o seu 
caminho clarear.
Toda a mata ficou iluminada,  para despertar
a passarada, que se pôs a cantar.
Sobre o mar, a mais linda estrada prateada, 
para  ela  passar.
Mas o  silêncio predominou.
A lua foi embora, os pássaros  pararam de
cantar.
E o poeta, ferido,  procura o seu coração curar...
Somente o beija-flor e a coruja, um à noite, e o
outro no dia, com ele tentam conversar.

Conto poético: A FEITICEIRA DOS CÃES

Tenho ouvido muitas histórias curiosas, narradas neste povoado
de pescadores.
Marcas de redes de pesca, deixadas na praia, à noite, quando
se sabe que não houve  pescaria.
Rastros de boiada,  mas que nem gado existe por perto.
Contaram-me a história de uma mulher, muito generosa, que
viveu no início do século passado, e que morava numa casinha,
bastante humilde,  no  morro da pedra da guarita.
Os vestígios da construção, ainda estão por lá. Conheço-os.
Segundo me narraram, a senhora, apelidada de "Maria dos
Cachorros ", possuía uns cinquenta animais, todos abandonados
e, por ela, recolhidos na freguesia.
Muito pobre,  mas nada pedia para alimentar os bichos, que
eram bonitos, e com boa aparência de trato.
Tinha este apelido pelo fato de andar, sempre, acompanhada
por seus cachorros, que a protegiam.
Quando faleceu, os cães, como que por encanto, sumiram do
morro, e nunca mais foram vistos.
Comenta-se que, em noites de lua minguante e  fria, ouve-se
muitos cachorros latindo  naquele local, e que, quem aguçar os
ouvidos, ouvirá gargalhadas de feiticeira.
Também, afirmam  que é comum aparecer  centenas  de  marcas
de patas de cachorros, na areia da praia, próximo aquele morro...
Estas historias  eram  contadas nas vendinhas, nas épocas em
que a iluminação era à base da pomboca, e regadas com  muitas
rodadas de pinga, destilada aqui mesmo,  nos engenhos de cana
de açúcar, na encantadora Praia dos Ingleses, nesta Capital
Catarinense.
 
 

quarta-feira, 14 de março de 2012

Conto poético: RANÇOS DO RACISMO

Ainda por conta de tristes lembranças de um crime, que a
humanidade praticou, e que tenta esquecer, muitas histórias
existem para se contar.
A injustiça praticada contra  alguém, abre uma  chaga nos
sentimentos que, dificilmente, cicatrizará.
Somente quem já foi vítima, pode avaliar esta acertiva.
Nem mesmo uma criança, na sua mais tenra idade, aceita
ser castigada por algo que não praticou.
Por isto, o Poder Judiciário, por vezes se excede, à vista
do leigo, em suas cautelas, para evitar um erro no  julgamento.
Quando menino, presenciei um fato, aparentemente inocente,
mas tenho certeza que,  se  aquele homem ainda viver,  não
esqueceu.
Assistia a um filme, na parte superior da sala de espetáculos,
numa bela tarde de domingo, na Cidade de Laguna.
Casa lotada, filme divertido.
Percebi um menino de, aproximadamente, nove nos de idade,
levantar-se e aproximar-se da salinha de projeção, que fica no
andar onde me encontrava.
Sem nenhuma cerimônia, urinou.
Como o assoalho era de madeira, escorreu para o pavimento
térreo, molhando o vestido de uma mulher que, histericamente,
fez o seu espetáculo à parte, com gritos de terror.
A projeção do filme foi interrompida, as luzes acesas, e os
policiais, que tomavam conta daquele ambiente, subiram as
escadas correndo, para apanhar o "criminoso ".
Constataram o local do crime, molhado, perguntaram quem
fez aquilo. Claro, o menino assustado ficou quietinho.
Como ninguém se manifestou,  o olhar do policial se fixou
num homem negro,  sentado  próximo à cena do crime.
Nõ teve dúvidas, agarrou o infeliz inocente pelo braço,
colocando-o no olho da rua.
Ninguém falou nada em sua defesa, temendo a polícia e o
ambiente agitado.
Trago este peso na consciência, até os dias de hoje...

terça-feira, 13 de março de 2012

Conto poético: QUANDO A SAUDADE BATE FORTE

Tenho um grande amigo, pescador,
Homem inteligente, trabalhador e dotado de todas
as virtudes. Transmite felicidade.
Seu pai, também, foi um pescador.
Como todos os demais, sonhou com uma vida mais
abundante, mais farta e menos penosa.
Sem ter que enfrentar as intempéries, para ganhar o
sustento  da sua família, composta de quatro pessoas.
Passou a exercer as  atividades de vendedor ambulante.
Logo prosperou e, novamente, trocou de atividade.
Desta feita, para um pequeno mercado que, em
seguida, se transformou num supermercado de
médio porte.
Vida feita em, mais ou menos, vinte anos.
adquiriu todos os bens  materiais que sonhou.
Encaminhou os filhos.
Seu coração sempre bateu mais forte, quando
próximo ao mar.
Falou-me, certo dia, que não aguentava mais a
saudade, que sentia da vida de pescador.
Arrendou o mercado, comprou um pequeno
barco,  foi atrás dos seus parceiros e se pôs,
novamente, a pescar.
Dias passados, o  encontrei com  o chapéu de
palha à cabeça, roupas bem simples, mas um
brilho nos olhos e um sorriso de felicidade que,
há muitos anos,  não percebia no meu amigo.
Deu-me um abraço emocionado, confessando
que, agora, é um homem muito feliz...
Não suportaria ficar mais um dia, sequer, sem o
balanço do seu barco, o vento fresco na face,
o canto das gaivotas, o ronco dos peixes, e a
sua liberdade, que não tem dinheiro que pague.

Conto poético: A EMOÇÃO DO MENDIGO

Um sábado lindo de maio.
O outono, em todo o seu esplendor, já anunciava a
temperatura amena, que ocorreria naquele dia, na
bela Cidade de Laguna.
Escutei o sino frenético, do campanário da suntuosa
Igreja de Santo Antônio dos Anjos, anunciando  algum
evento, certamente, muito importante.
A Igreja toda enfeitada com rosas brancas, cheirosas,
mais parecendo um jardim santificado.
À porta de entrada, um mendigo, horas antes da
cerimônia, já postado, pronto para pedir o seu óbulo.
São, agora,  17.00 horas.
A Igreja cheia de convidados.
O mendigo  "fura" o cerco do cerimonial, entra na Igreja e,
próximo ao Altar, num dos arranjos de rosas brancas,
insere uma  vermelha que, imediatamente, chama a atenção
pelo contraste da cor.
Ficou linda !
Retorna  ao local aonde se encontrava.
Casamento "chic ",  demorado. A alta sociedade reunida.
Terminada a cerimônia, felicitações, sinos dobrando,
pessoas sorrindo, abraços, arremesso do ramalhete de
flores, chuva de arroz, histerias... o mendigo chorando,
copiosamente.
Todos se retiram, muito barulho de portas de  automóveis.
Silêncio, absoluto...
Um homem permanece com o mendigo. O padre, que o
reconhece e o cumprimenta, abraçando-o e dizendo-lhe:
" Parabéns. Graças a Deus, ela está muito feliz ".
Finalmente, o mendigo sorri, e  foi embora, para sempre...

Conto poético: O CAPA PRETA

Esta minha Ilha, realmente, tem histórias  pitorescas.
Até parece que só acontecem por aqui.
Na década de quarenta,  Florianópolis era uma Cidade,
ainda, muito pequena, embora Capital do Estado.
Com uma população de , aproximadamente, 80.000
habitantes, ou menos, e pessoas muito simples, ou até
ingênuas.
Serviços públicos deficientes, como a energia elétrica,
por exemplo, precaríssima.
Cidade mal iluminada, sem pavimentação e ruas com
muito mato, pela falta de habitações, davam vazão  à
imaginação.
Claro, não dispunha de televisão, e a rede telefônica
servia, apenas, alguns pontos privilegiados, quase que de
interesse público.
Dois quilômetros fora do jardim central, já era "periferia
da cidade".
Qualquer novidade, tomava-se conhecimento pelo rádio,
ou  por  "boca a boca".
Dentro deste cenário, surge um bandido aterrorizando a
minha querida Florianópolis.
Um homem atacava as mulheres incautas, no período
noturno, que ousassem sair só, às ruas da "periferia".
Pode-se, hoje, imaginar o que representou, à época, um
assunto desta envergadura ?
Não se falava em outra coisa. A conversa rolava solta em
todos os lugares.
O homem vestia roupas escuras, coberto por uma longa
capa, também escura, e logo recebeu o  apelido suntuoso
de "capa preta".
Passou a ser o personagem principal, desta Ilha.
Era o fascínio das mulheres, pela curiosidade, odiado
pelos homens, que queriam a sua cabeça, e o maior
desafio enfrentado pela polícia, que não conseguia
prende-lo.
O homem era tão famoso, que despertou um grande
entusiasmo num jovem estudante.
Vestiu-se de  roupas negras, com uma vasta capa preta,
e saiu, à noite, assustando as mulheres.
Claro, era uma réplica, sem as habilidades do "original".
Foi facilmente cercado,  quase  linchado pela população,
apanhou uma surra, sem precedente da polícia, que já
estava desmoralizada pelos insucessos anteriores.
Dizem que, após tudo esclarecido, apanhou outra surra,
para se lembrar que este tipo de brincadeira, não se deve
fazer.
Mas a maior penalidade, ainda estava por vir.
Embora seja um homem de inegável posição social, curso
superior, etc.,  perdeu, por vingança do povo,  o seu nome
de registro, para um sonoro e sinistro apelido de
"CAPA PRETA", perdurando até os dias de hoje...

segunda-feira, 12 de março de 2012

Conto poético: O TARRAFEADOR DE ILUSÕES

Somente quem já tarrafeou, pode avaliar o prazer que dá.
A escolha do local,  e sentir o pescado bater no pano, é uma
emoção incomparável. Uma  terapia.
Os portugueses  ensinaram esta  arte  de pescar.
Nem de embarcação necessita.
É praticada na praia, ou de cima do costão.
Pela fieira, presa ao pulso, dá os limites que bem entender.
Da mesma forma, seleciona  o tamanho do pescado,pela malha.
Conversa com a tarrafa, pelo tilintar da chumbada.
Confia no rufo, como  se  um carcereiro fosse.
Na cintura, um bornal para depositar o  que pescou.
O "bate papo " com os amigos, e o olho no mar,.. que maravilha !
O grito de guerra na alegria do  sucesso,,,
A família à espera, para ver o que  traz  no bornal.
A água já fervendo, a farinha de mandioca sobre a mesa... tudo
pronto para  nascer  o pirão.
É muito prazeroso !
São  estas coisas simples, mas tão gostosas, que prendem o
homem desta terra, ao mar ...
O pescador artesanal, pelo menos os mais velhos, costuma
dizer que se mudar de vida, morre de nostalgia.
Há localidades, como Laguna, que o homem tem o boto como
parceiro.
É incrível esta associação  mas, afinal, pertencem ao mesmo
reino.
Observei muito, este tipo de pescador.
É o que menos mente, o que mais se diverte, e o o que mais
sonha,  recolhendo,  na tarrafa,  as ilusões e os amores da sua
vida !

Conto poético: UMA LUZ MISTERIOSA

A criatividade humana, não tem limites.
Fui amigo de um dos pescadores mais antigos deste
povoado.
Hoje, até nome de rua,  foi atribuído em sua memória.
Homem simples, bom de conversa, pois viajou por quase
toda a costa brasileira, e pela Argentina, também.
Sempre cheio de novidades, histórias que se passaram
no barco e em terra.
Muitas festas. Coisas de marinheiro civil, pois muitos dias
passou em alto mar, sem as regalias  das cidades.
Contou-me  que, neste povoado de pescadores,  uma luz,
provavelmente emanada de uma pomboca, circulava pelo
alto do "morro da  gurita", e que muita gente se assustava.
Em alguns momentos, a luz acendia e, em outros, apagava.
O local, conheço, é tétrico.
Mata fechada, com acesso muito próximo ao cemitério .
São almas penadas  procurando luz, diziam alguns.
Ninguém mais ia ao costão da "gurita", passando por aquela
picada, logo após o escurecer.
O mistério dava asas à imaginação. Cada qual inventava
uma historia, quase sempre de fundo fantasmagórico.
Até o padre da igrejinha foi solicitado a benzer o local, com
suas orações e tudo mais.
O povo era muito suopersticioso.
Historias de almas do outro mundo, era o que mais corria.
Local pequeno, sem  energia  elétrica ... a noite aguçava as
fantasias.
Repentinamente, teve um acesso de risos. Perguntei-lhe a
razão de tamanha alegria ?
Respondeu-me que foi a maior aventura da sua vida, toda
esta historia.
Ele era a luz que circulava no morro, emitindo sinais para
a sua paixão, uma mulher comprometida, residente na
freguesia... e que nem na hora da sua morte,  confessaria
este assunto ao padre, com medo de ser excomungado,
ou ter a sepultura violada, por vingança do marido.
Jamais revelarei o  segredo  que me confiou...

sábado, 10 de março de 2012

Conto poético. O TEATRO DA VIDA

No interior desta Ilha, nas épocas em que tudo era
muito atrasado, socialmente. coisas estranhas
aconteciam, e que, até os dias de hoje, somente são
explicadas por suposições.
Apareciam figuras  humanas que se tornaram
folclóricas, certamente pela notoriedade que ganhavam
ou, quem sabe, por outras razões.
Um velho pescador, dotado de um coração extravagante
em   bondade, pelo menos duas  vezes ao ano, se
transformava numa figura, mística para alguns, e
fantasiosa, para outros.
Aquele homem que, normalmente, usava vestes de um
autêntico  pescador, que não abandonava o  surrado
chapéu de palha, barba por fazer, até para se  proteger
do sol causticante, se transformava, completamente.
Barbeava-se, abandonava o tradicional chapéu, muito
bem penteado,  e vestido com um traje longo, uma
espécie de túnica que lhe cobria todo o corpo, na cor
branca, bem limpinha,  e saía pelo povoado.
Escolhia a  pessoa que queria homenagear.
Uma em cada rua.
Mulher, homem, ou criança. Não importava.
Enchia, com água fresca, uma bacia de alumínio, que
carregava em sua bagagem, e iniciava o seu ritual,
delicado e perfumado.
Trazia  essências de ervas cheirosas, por ele mesmo
preparadas e, após lavar os pés do escolhido,banhava-os
com o  perfume.
Enxutos, beijava-os, num gesto singular de amor...
Questionado sobre a razão daquela cerimônia, tão bela,
respondia que cada um a via de uma forma, e que neste
mistério da interpretação, residia a beleza do seu
teatro da vida... simples, não ?
Aquele homem era um sábio !
Somente hoje, compreendo...

Conto poético: UM CAFEZINHO MUITO SAFADO

Esta Ilha de Santa Catarina, realmente, tem histórias
inusitadas.
Antes da revolução feminina, pelo menos nesta região,
e, principalmente, no interior da Ilha, as mocinhas
tinham em mente um único objetivo, ou seja, casar.
As mães ensinavam as suas filhas, todos os afazeres
de uma "dona de casa",
E faziam questão de divulgar na vizinhança, o quanto
eram eficientes.
Sabiam, cozinhar, muito bem, lavar  roupas, deixando-as
limpinhas e, depois, muito bem passadas.
Sabiam arrumar  a casa. O assoalho dava para se espelhar !
O jardim muito bem cuidado !
Sabiam costurar e remendar uma roupa, com toda a
perfeição. Até, virar um colarinho !
Hoje são conversas, que parecem folclóricas, mas que,
na época, eram apropriadas, pois a mulher era preparada,
para ser dona de casa.
Para que estudar ?
Daqui mais alguns anos, irá se  casar e cuidar do marido e dos
filhos !  Para que escola, para que ?
Absurdo ?  Pois era, exatamente, desta forma que as coisas
caminhavam.
Então, a prioridade era o casamento. E, para que isto,
acontecesse, valia de tudo.
Havia uma crença, na cultura desta minha querida terra, que
quando a mãe e a filha, se interessavam por um determinado
"moço", que seria um bom "partido", para a "moça", e o rapaz
estava  meio indiferente, bastava servir-lhe um cafezinho,
especialmente preparado pela filha. Ao invés de coador, para
"passar" o café, usava uma peça de roupa, a mais íntima, e
pronto. O moço ficava desesperado pela menina.
Até hoje, ainda se fala muito neste método, como eficiente
maneira de convencimento.
Será verdade ?
A coisa era tão séria, que quando a mãe do rapaz, percebia
a transformação do filho, ia até a porta da casa da moça,
tirar satisfação, indagando se deram café preparado com
aquela água...
Um escândalo.
Todos, nesta Ilha, sabem destas histórias, porque muitos
casamentos foram realizados, sim, com estes antecedentes.

Conto poético: PAIXÃO SALVADORA

 Transitam  emoções nos sentimentos humanos, quase
inexplicaveis.
Júlia, casada por mais de  trinta e cinco  anos, nunca esqueceu
o seu primeiro namorado, a paixão da sua vida de solteira.
Três filhos, netos, já aposentada, ficou viúva.
Passados, apenas, alguns meses,  entrou em contato com
aquele homem, o amor perfeito.
Desde o rompimento do namoro, nunca mais haviam
conversado.
O homem,  estava com a sua aparência modificada, pelo
decurso do tempo.
Ela, da mesma forma. já havia perdido os encantos da
juventude.
Meio sem graça, cada um contou a sua história de vida.
Ela lembrou  detalhes do namoro, que ele chegou até
duvidar que  tenha sido com ele,  tudo aquilo que havia
se passado.
Mencionou roupas, com as quais estaria vestido, que ele
jamais as usou.
Locais, que juntos  frequentaram, que ele nem conheceu.
Falou durante mais de uma hora,  "sem respirar".
O homem, finalmente, teve a palavra.
Disse-lhe que estava  bem casado, há mais de trinta e
cinco anos.
Lamentou que houvessem terminado o namoro, pois o
motivo deve ter sido banal, já que nem se recorda...
Que ama muito a sua família, mas que, doravante poderão
ser bons amigos...
Despediram-se cordialmente.
Não  teve outro sentimento, naquele  encontro, além do
prazer de rever uma pessoa, que  há muitos anos não via.
Tirou as suas conclusões.
Esta mulher, passou uma vida inteira, fantasiando uma
paixão  na   juventude, acrescentando fatos que a sua
mente criou, e exigiu que fossem verdadeiros.
Hoje está confusa. Não sabe mais distinguir o que se
passou, realmente, e o que é fruto da sua imaginação.
Deve ter sofrido muito...
Apenas para ter certeza de tudo o que havia escutado
de Júlia, e por curiosidade,  rebuscou antigas fotos
da época de solteiro.
Para  sua surpresa, lá estava ele, vestido com  as
roupas descritas.
Faltava certificar-se de alguns locais que teria ido.
Ligou para um amigo confidente, que  tudo
confirmou.
Ficou muito preocupado, com a história.
Procurou um médico.
Estava perdendo a memória, e não percebia.
Júlia chegou a tempo... embora decorridos
 mais de trinta e cinco anos de ausência....
O amor, sempre  chega a tempo....

quarta-feira, 7 de março de 2012

Conto poético: O ADEUS AO MEU PROFESSOR

Um brilhante professor de matemática, latim e estatística.
Chegou da Alemanha, logo após o término da segunda
guerra mundial, por volta de  1948.
Passou a lecionar nos principais colégios desta Capital,
Na Universidade Federal de Santa Catarina, também.
Sério,  competente e dedicado ao seu ofício, logo
conquistou a confiança e a admiração da comunidade
educacional.
Tive o grande privilégio de ser o seu aluno,  por sete
anos, no ensino fundamental, e mais dois anos em
curso superior.
Este homem foi professor de milhares de alunos, durante
mais de meio século de magistério.
Foi um grande orgulho para o mundo educacional.
A idade e a doença, finalmente, o venceram.
Escutei, na rádio local, o  horário do seu sepultamento.
Preparei-me para ir à uma cerimônia fúnebre, por certo,
a de maior comparecimento da historia daquele cemitério.
Lá estava  ele, rodeado da viúva, seus dois filhos e demais
parentes. Menos de  dez pessoas,amigas.
De  ex-alunos, acreditem, somente eu, e a minha  profunda
dor.
No trajeto, de minha casa até o cemitério, fui  mentalizando
algumas palavras de agradecimento, que estavam represadas
em meu coração, havia muitos anos.
Falei  com a viúva e o seu filho engenheiro. Disse-lhes porque
estava ali, e da admiração que sentia por aquele grande homem.
Abraçaram-me e, gentilmente,  agradeceram.
Não tive equilíbrio emocional para fazer o meu discurso.
Porém, alguns dias após a cerimônia, voltei solitariamente
aquele lugar, e fiz as minhas declarações  ao  grande
Professor,  João Batista Luft, relembrando fatos, desde o
exame de admissão ao ginásio, até a faculdade.
Pedi-lhe desculpas, pela ausência dos demais ex-alunos que,
certamente, não ficaram sabendo  da notícia.
Estou  em paz, com a minha consciência.
Espero que os demais, também.

terça-feira, 6 de março de 2012

Conto poético: CONSELHEIRO MISTERIOSO

Neste povoado de pescadores, místicas almas  habitam.
As pessoas são simples, humildes e bem educadas,
embora o poder público as tenha abandonado.
O domínio da religião é absoluto. Entende-se  este fato,
pois a insegurança social, é gritante.
Descontrolam-se, sempre que ocorre um abalo emocional.
Porém, surge um salvador inusitado, misterioso.
Nas montanhas que circundam a praia, no meio da mata,
existe um homem solitário, de estatura muito pequena,
barba enorme...
Vive numa caverna de pedra, e jamais veio ao povoado.
Sobrevive  com os frutos que a floresta lhe proporciona.
Maltrapilho e solitário. Absolutamente só. Quem sabe um
ermitão,com idade muito avançada. Talvez a idade da
humanidade.
Quando acontece uma tragédia, as pessoas o procuram,
como a um Deus.
Contam-lhe o que houve, mas ele sempre parece já saber
do que se trata. Cita  nomes, lugares e datas.
Atende um de cada vez, e somente um por dia.
Conversa e aconselha os caminhos que deve tomar.
Exige, apenas, silêncio e segredo em torno do que  foi
conversado.
Todos cumprem o juramento.
São  pessoas com doenças graves, perdas de entes queridos,
separações familiares, angústias, etc.
Ninguém sabe de onde veio este homem, ou santo.
Chama a todos pelo nome, conhece  seus familiares...
Não aceita pagamentos, nem oferendas.
Quando há muita insistência, pede para que seja escolhida a
 pessoa mais necessitada do povoado, para ofertar a
doação.
Embora residindo por lá, no morro da feiticeira,  há muitos e
muitos anos, ninguém sabe o seu nome, nem de onde veio.
Tem, apenas, um apelido : "pai do mato".
E é tido como um "curandeiro das almas".
Do mesmo jeito que apareceu  no povoado, misteriosamente,
foi embora, sem deixar vestígios.
Porém, basta subir a montanha, em noite de lua minguante, chamar
pelo seu apelido que, no dia seguinte, lá estará ele, sentado à frente
daquela caverna, pronto para escutar quem,por ele, chamou.
Pena que a mocidade de hoje, não acredita nesta história... e, nem
mesmo, na  força da sua consciência, ainda que tenha o apelido  de
"pai do mato "....