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domingo, 12 de fevereiro de 2012

Conto poético: CONFISSÕES DE UM VELHO PESCADOR

Tive a feliz oportunidade, de privar da amizade de um velho
pescador.
Simplesmente,  maravilhoso.
Um sábio. Analfabeto. Coração puro, como a mais cristalina
das águas.
Cada palavra pronunciada, uma lição de vida.
Deveria ter percorrido  as escolas daquela comunidade,
para palestrar aos jovens. Teriam aprendido muito  com aquele
homem, que já havia ultrapassado a barreira dos noventa anos
e com uma lucidez  incrível.
Num final de tarde, em plena primavera, frente ao mar do Oceano
Atlântico, aqui, nesta Praia dos Ingleses, na Ilha fantástica de
Santa Catarina, tive  a generosa oportunidade de sentar-me ao lado
do Senhor Antônio Bananeira, e escutar as suas confissões pessoais.
Foram muitos os desabafos, com o chapéu de palha sobre os joelhos.
Disse-me sentir vergonha de jamais haver frequentado uma
escola, para aprender a ler e escrever, pois admirava muito
as pessoas que abriam um livro, e falavam o que lá estava escrito.
Comentou sobre as suas frustrações amorosas, pois a mulher
que tanto amou, nunca soube da sua paixão, e acabou casando
com o seu melhor amigo.
Com isto, tem sofrido durante mais de setenta anos, pois todas
as vezes que a vê, ainda sente "uma facada no peito ".
"A mulher, com quem estou casado, é uma santa. Mas eu queria
era uma mulher, não uma santa".
Foi um casamento sem filhos, pois sua mulher não conseguiu
engravidar. Isto foi acontecer com ele, que tanto adora crianças.
Desejou, a vida inteira, organizar uma empresa de pesca, mas
sempre foi desencorajado, por seus amigos e sua mulher.
O tempo passou, sentiu-se velho e sem forças para levar à frente
o seu projeto.
Apesar destes desencontros da vida, se considera muito feliz,
pois descobriu que ama muito o mar, os pássaros marinhos, o
barulho das ondas ao quebrar na praia.
"Creio que não conseguiria chegar na idade,  em que cheguei,
se não houvesse vivido nesta terra, à beira-mar. É uma paixão sem
fim ".
Recolocou o chapéu de palha à cabeça, com os olhos mareados...
Hoje, passeio só pela praia.
A gaivota passa, gorjeia no alto do céu, como a perguntar pelo meu
grande amigo...
Cada onda que quebra na praia, me traz as mais fortes recordações
daquele homem.

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