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sábado, 12 de novembro de 2011

Conto poético: RASTROS DO PASSADO

Quase tão antiga, quanto aquela cidade histórica, era a
casa em que morei, durante cinco anos.
Foi construída com mão de obra escrava, e, portanto,
com muito sofrimento.
No silêncio da noite, olhava seus longos corredores de
acesso às dependências, e minha imaginação passeava
pelos séculos anteriores.
O madeiramento de sustentação do telhado, era feito com
troncos de árvores, extremamente pesados e colocados
no alto, com força humana.
O alicerce era de pedras grandes, pesando toneladas.
Via, perfeitamente, o esforço daqueles homens,
submetidos à humilhação.
A argamassa, feita com areia, cal de conchas e óleo de
baleia, era uma mistura perfeita. Não se rendeu ao tempo.
Os tijolos de barro, eram grandes e maciços.
Uma fortaleza.
A área da cozinha, ampla, exagerada para a sociedade de
hoje, não possuía assoalho. Era de chão batido. Muito
comum nas construções da época.
Um dia, por impulso de pura curiosidade, subi ao sotom
daquela casa.
Examinei, minuciosamente, as paredes, sem revestimento
de argamassa.
Tive uma surpresa emocionante, da qual nunca esqueci.
Num dos cantos, bem baixo, entre o telhado e o forro de
madeira bruta, que tambémm servia de um pequeno depósito,
encontrei um painel de reboco, feito na parede, com as
dimensões de, mais ou menos, um metro quadrado.
Nada escrito. Nem precisava, pela mensagem gravada.
Dois pés grandes, dois pés menores e delicados, e mais
quatro pares de pés de variados tamanhos, certamente, de
crianças. Além disto, as mãos direitas de todos.
Muitos corações desenhados, e entrelaçados.
Tudo em baixo relevo.
Deus do Céu, quanta emoção senti.
Uma família de escravos, trabalhou na construção daquela
casa.
Pelos sinais, eram muitos felizes, unidos pelo amor, embora
vivendo numa época em que o mal predominava.
Saí dali, fui à Igreja de Santo Antôno dos Anjos, e rezei muito,
com todo o fervor, àquelas almas, agradecendo a bela morada
de que estava desfrutando, juntamente com meus pais e os
meus irmãos...
Que Deus se lembre deles, porque jamais os esquecerei...
Ah, sim, embora tombada pelo poder público, como patrimônio
histórico, foi demolida. Mas continua de pé, em minhas
lembranças e, agora, neste conto poético...

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