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domingo, 17 de abril de 2011

VESTIDO NEGRO

Parecia uma tarde como tantas outras.
O verão já havia se despedido.
Iniciava-se uma nova estação, com um vento
frio soprando do mar, e trazendo um forte
aroma de maresia.
As canoas, adernadas na areia branca,
pareciam render-se ao cansaço.
Os pescadores, recolhidos em suas modestas
casas, contavam proezas de pescarias.
Das chaminés dos fogões à lenha, partia a fumaça
que testemunhava a vida em família.
Mas muito próximo, o canto impaciente das gaivotas,
lembrava o compromisso do homem com o mar.
O velho pescador, obediente, confere os seus pertences,
empurra sua pequena embarcação e, auxiliado pelas
nervosas ondas, ganha, como sempre, o fraterno
abraço do mar aberto.
A busca pelo alimento é desigual.
Suas mãos, calejadas  pelo remo, e os braços
já sem forças, pareciam implorar por uma trégua.
Mas o velho pescador não desiste.
Foi a sua última teimosia...
Na pequena casa, sua companheira de tantos anos,
reza por sua volta.
Desta vez, Nossa Senhora dos Navegantes não ouviu
as suas preces...
Com a barra da saia, enxuga as lágrimas que
brotam das fontes do medo e, agora, da saudade.
Levanta-se do pequeno banco, feito com restos
de estivas, rebusca o fundo da mala de papelão,
e retira o vestido negro que a sua falecida mãe
lhe destinou, vestindo-o para sempre.
As gaivotas cobriram de luto as suas asas,
e nunca mais exigiram, dos velhos pescadores,
a presença no mar ...

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