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sexta-feira, 22 de abril de 2011

Conto poético: O preço da traição

Fins do século XVIII.
A freguesia do norte da Província Azul,
no nordeste brasileiro, agigantava-se em pleno
desenvolvimento.
O comércio escravagista, explodia em quase todo
o planeta.
A prosperidade florescia às custas da mão de obra
escrava.
Terras grandes, medidas em léguas, e escravos negros,
como propriedade particular, constituíam os principais
ingredientes para instalação da maldição e da
crueldade.
Os currais humanos, chamados, poeticamente, de
"cenzala ", tornaram-se pequenos para abrigar a população
escrava, que aumentava sem parar.
Neste caldeirão de atrocidades, prosperou a figura  do
"capitão do mato".
Homem rude, temido entre os fragilizados, era considerado
um traidor da sua etnia e, por vezes, das suas raízes.
Parecia ser desprovido de sentimentos.
O sadismo era a sua bússola.
O menosprezo pelos seus pares negros, parecia
uma vingança por haver nascido, também, negro.
Mas, um quilombo  foi descoberto, nas cercanias das matas
da fazenda do poderoso Senhor Samuel de Almeida.
O capitão do mato, Horácio, recebeu a missão de encontrar
os negros, que haviam fugido daquela fazenda.
Horácio, com alguns ajudantes, cachorros grandes, cordas
e grilhões, montados em possantes cavalos, localizaram
e cercaram o quilombo.
Eram dezesseis quilombolas, entre mulheres, homens,
jovens e um velho escravo.
O velho, com dificuldades de locomoção, foi amarrado,
açoitado e  arrastado pelo capitão do mato, Horácio,
sem a menor piedade.
Dias depois, chegou  à fazenda a sinistra comitiva,
orgulhosa pelo sucesso da missão.
Todos foram exemplarmente castigados e acorrentados,
sob o olhar amedrontado dos demais escravos.
Aproximou-se de Horácio, a sua mãe, a escrava Maria
Pálida, que lhe disse:
"Meu filho, este velho que está morrendo, e que esteve
fora da cenzala por mais de vinte anos, é o mesmo que,
um dia, matou um capitão do mato, para te defender do
açoite.
Jurado de morte pelo senhor da fazenda, ficou escondido
durante todos estes anos, no quilombo do Serro Azul.
Eu sempre mandava notícias a teu respeito, e ele ficou
muito triste ao saber que tu passaste à função de capitão
do mato.
Horácio, este velho é o teu pai !"
Horácio abraçou o velho escravo no seu leito de morte
e,  aos prantos, pediu-lhe perdão, no que foi atendido.
Horácio abandonou aquele ofício, fugiu da  fazenda e
fundou um quilombo, para abrigar todos os escravos
fugitivos da região.
Dizem que esta história correu mundo...

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