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sábado, 23 de abril de 2011

Conto poético: Mistério em Laguna

As ruas do centro histórico, quase desertas,
silenciosas e abafadas pelo calor de Janeiro,
permitiam, apenas, a presença de cães vadios,
deitados à sombra da espirradeira em flor.
No final da rua, uma pequena concentração
de homens e mulheres, chama-me  à atenção.
Alguma novidade havia à frente daquela casa.
Precisa descobrir, urgentemente.
Murmúrios, choros e lamentações, denunciavam
 a ocorrência de  um fato sinistro.
Acertei. É um velório ! Não perdia um.
Pequeno, ainda, fui entrando,  como se da
família fosse.
Alguns me cumprimentavam, passando a mão
sobre a minha cabeça, tentando confortar-me.
Meus olhos encheram-se  de lágrimas,pelo
esforço que fazia para não sorrir daquela
situação, triste mas, para mim, criança,
divertidíssima.
Ganhei café, biscoitos e gasosa de framboesa.
Uma verdadeira festa.
Sai o féretro, por volta das 16.30 h, em
direção ao cemitério, nos altos do Morro da
Cruz, a pé, como era de costume.
Firme, na sinistra comitiva, lá estava eu,
contente, sem me importar com o calor abrasador.
Era o único menino presente àquela cerimônia.
Todos me confortavam. Senti-me importante.
O coveiro Ibrahim, figura já lendária daquela
Cidade, olhou-me desconfiado, já que conhecia
todos os parentes do falecido.
Seguiu-se o ritual de sepultamento.
Joguei terra e cal sobre o caixão,com o orgulho
 de estar entre os adultos.
Após mais de sessenta anos, retornei aquele
cemitério e localizei o túmulo deste episódio,
pois está mapeado  em minha mente.
Fiquei assustado.
Ao lado daquela sepultura, jaz o Senhor Ibrahim,
aquele coveiro que me reconheceu como um
impostor, falecido dois anos antes daquele
sepultamento...

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