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quinta-feira, 21 de abril de 2011

Conto poético: A flauta da liberdade.

Nas encostas do Monte Negro, localizado
abaixo do Cruzeiro do Sul, e  à beira do
Oceano Atlântico, encontra-se uma linda
vila de imigrantes portugueses.
Gente simples, chegada ao Brasil no início
do século XIX.
Sobressaiu-se a família Gálmata, proprietária
de muitas terras, gado, plantações, engenhos
de açúcar e farinha, inclusive muitos escravos
para o trabalho pesado, na fazenda.
O senhor de tudo, Genário Gálmata, descendente
de  imigrantes, possuía quatro filhos, dentre eles,
uma belíssima moça de quinze anos.
Olhos azuis, educada e alfabetizada. O orgulho
da família.
Genésia, era o seu nome, e "Nezinha " o seu
carinhoso apelido.
Logo abaixo da "Casa Grande ", a uns cento e
cinquenta metros, localizava-se a cenzala, com
uma comunidade  de cento e setenta e quatro
escravos, composta  de homens, mulheres e
crianças.
Entre eles, Ditão, um jovem escravo, trabalhador
e muito bom conceituado na fazenda.
Alegre e tocador de flauta, feita por ele mesmo e
de bambu, a todos encantava com as canções que
aprendeu com o seu avô, o "Velho Tongo", como
era  chamado.
Numa bela noite de luar, mas muito fria, Ditão
executava  suas canções, recostado à cerca do curral.
Três escravos, sentados ao chão,  ouviam as   suas
suaves  melodias.
Repentinamente, não se sabe de onde, surgiu  a
sinhazinha Nezinha. Parou a sua frente e aplaudiu
a execução de tão bela canção, vinda da Guiné e
ensinada pelo "Velho Tongo ".
Ditão, emocionado, trocou  em lágrimas um profundo
olhar com a bela moça.
Foi o suficiente para o assunto, por falta de outro,
chegar aos ouvidos do senhor do engenho.
Um escravo olhar para a minha filha ?
Ditão foi amarrado ao pelourinho, e recebeu tantas
e tantas chibatadas que, até hoje, as opiniões divergem
em torno da quantidade.
O rude "capitão do mato ", somente parou o açoite
quando os gritos, também, cessaram...
Mais tarde, o Senhor Genário recebeu a visita da
mãe de Ditão, a escrava Taluda, dizendo-lhe que,
desta vez, ele havia passado dos limites, pois mandou
matar o seu próprio filho, fruto das relações que,
costumeiramente, mantinha com as escravas da cenzala.
Profundamente abalado, mandou retirar o pelourinho da
sua propriedade, jogou ao mar todos os objetos de tortura,
acabou com a figura do "capitão do mato ", e o trabalho
forçado.
Pediu perdão a todos os escravos, e nunca mais retornou
à cenzala.
Nezinha guardou a sua flauta de bambu, aprendeu com
o Velho Tongo todas canções que havia ensinado ao seu
estimado neto, e as executava nas noites de luar, da janela
do seu quarto.
Nezinha, repassou aos seus filhos, netos e bisnetos, e estes
de geração em geração, esta história.
Dizem que  este  acontecimento, também, precipitou
a célebre  decisão histórica  de 13 de maio de 1888,
comovendo a humanidade...

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