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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Conto poético: Consciência

Anoitece no vilarejo de uma comunidade
de pescadores, no litoral do Estado Catarrinense.
O mar revolto, o vento frio, encurralam
os moradores em suas casas.
Da beira dos telhados, escorre a
água deixada pela fraca, mas persistente
garoa que tudo molha.
Os animais domésticos abrigam-se, como
podem,nos porões dos ranchos e das casas.
As ruas, quase desertas, parecem esconder,
silenciar ou segredar algum fato, que não
pode ou não deve ser comentado.
O silêncio é por demais inquietante. Assusta.
Absorto em minhas observações sou
interrompido pelo barulho de uma pequena
carroça, de duas rodas, movida à tração
humana. apropriada para transportar materiais
inservíveis.
Um homem de estatura média, pés descalços,
maltrapilho, trazendo à cabeça um velho
chapéu de feltro, na cor marrom, é o seu
operador.
Revira e vistoria os sacos de lixo, à procura
dos materiais que lhe interessam.

Cansado, senta-se numa pedra  à beira do
caminho, e prepara com um ritual admirável,
o seu cigarro de palha.
Era a minha grande oportunidade de saber
um pouco, sobre aquele mórbido silêncio.
Sentei ao seu lado e. após algumas
provocações, informou-me chamar-se Amadeu
Romildo Siqueira, mas que todos o conhecem
por "Bajú", e que gosta muito do apelido.
Solitário, mas também observador, Bajú
conhece todos os moradores, pois reside
naquele lugar desde que nasceu, no ano de
1910.
Disse haver sido vítima de uma injusta
acusação de latrocínio, e que, por isto,
passou grande parte da sua vida, recluso
em um presídio na Capital.
Foi humilhado, espancado e, finalmente,
julgado por um júri composto por pessoas
acima de qualquer suspeita.
Após cumprir dezesseis anos,  setenta dias e
nove horas de prisão. o verdadeiro
assassino, não mais suportando peso da
consciência, procurou a polícia e confessou,
com detalhes, a sua autoria.
O Senhor Juiz, após alguns dias, determinou
a sua soltura..
O Senhor Prefeito renunciou ao cargo. por
vergonha de ver seu filho  condenado à
prisão.
O Doutor Promotor de Justiça foi embora
deste lugar,
e ninguém sabe do seu paradeiro.
Dois jurados ainda vivem.
Perguntei-lhe como suportou a prisão por
tanto tempo, sendo um homem inocente ?
Ao que, prontamente, respondeu-me :
"Ah, meu filho, exatamente por isto. Meu
corpo estava encarcerado, mas a minha
consciência sempre esteve em liberdade ."

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